Arquivo de março, 2012

T R O P I C Á L I A  ?Acho que foi no final de 67 ou início de 68. Eu era apenas um garoto fissurado em música tentando entender todo aquele vanguardismo britânico de então e lembro bem daquela minha reação em frente à TV: TROPICÁLIA ? Recentemente,coisa de uns cinco anos atrás, li alguns livros e textos sobre o assunto e condensei o conteúdo em 3 ou 4 páginas que escrevi (para um trabalho escolar dos filhos) mas confesso que não fui procurá-lo para precisar datas,eventos e que tais. Vai no bolo.Com o coração,a emoção e as lembranças. Até porque o MOVIMENTO TROPICALISTA  envolvia literatura, teatro, cinema, artes plásticas e dança, embora todas estas artes tenham aderido à idéia proposta em princípio, pelo movimento musical. E era justamente esse quesito o que mais interessava aos músicos, curiosos e doidos…como eu.Depois da Bossa Nova, o TROPICALISMO foi o único autêntico movimento que mudou a estética e os conceitos da música brasileira de forma contundente, abrangente e eficaz. Tão impactante que pegou muita gente de calça curta. É bom lembrar que havia até ali,duas correntes musicais que competiam no Brasil. Por força da DITADURA, o público universitário, influenciado pelas patrulhas ideológicas, mais apreciava canções de temáticas “engajadas” e de rítmos nativos (sambas, toadas, nordestinidades etc) produzidas pela turma chamada de MPB.Os Festivais eram os espaços preferidos e quase exclusivos desse grupo. A outra corrente, liderada por Roberto Carlos, chamada JOVEM GUARDA , se era musicalmente pouco ou nada original (assentava-se em versões do “pop internacional”), além da grande aceitação popular, era muito influente no que concerne ao “comportamento”, especialmente entre adolescentes de todas as camadas sociais. É claro que entre o pessoal da MPB havia uma quantidade bem significativa de artistas de primeira linha, assim como na Jovem Guarda (embora bem menos), mas de certa forma havia muito “conservadorismo” em ambos.

ALÉM DE NÃO rejeitar peremptoriamente qualquer dessas duas correntes,o TROPICALISMO, especialmente seus líderes, CAETANO VELOSO e GILBERTO GIL, além de GAL COSTA, BETHÂNIA, MACALÉ, TOM ZÉ, TORQUATO NETO, OS MUTANTES, CAPINAM e o maestro ROGÉRIO DUPRAT, reconheciam uma certa estagnação e tradicionalismo que limitavam avanços na música brasileira e seus criadores.Naquele período , novidades tecnológicas e as influências da música internacional eram tão rejeitadas quanto os sons da “velha guarda” nacional. Inacreditável. Tanto se odiava a “guitarra elétrica quanto se esnobava Noel Rosa. A proposta tropicalista incluia tudo isto e muito mais. E se o vanguardismo harmônico e poético da Tropicália chocou os “puristas”,o mesmo se deu com o visual adotado.Enquanto os “mpbistas” se apresentavam trajando “smoking” ou paletó (até “esporte fino”), e a turma do “iê-iê-iê” ia na linha das roupas Calhambeque, o TROPICALISMO preferia um visual hippie. Roupas largas e coloridas, longas madeixas (black power valia), barbas e presença de palco um tanto histriônica.

Em recente depoimento, GILBERTO GIL declarou: “Minha primeira influência foi LUIZ GONZAGA, depois vieram DORIVAL CAYMMI e JOÃO GILBERTO. Então conheci CAETANO e nossas idéias convergiram porque, também adorávamos os BEATLES e os STONES. A idéia era fugirmos das convenções e adotarmos todas essas referências. A música brasileira já nasceu híbrida. PIXINGUINHA adotava todos os elementos do blues e do jazz. Em princípio, chamamos muita gente. Edu Lobo, Sidney Miller, Sérgio Ricardo, Dori Caymmi, Toquinho e outros mas, o pessoal ficou no muro. Então CAETANO falou: Vamos fazer! Só nós dois. E fizemos contra tudo e todos. E vieram logo “nossa turma” e até Nara Leão, Jorge Ben e mais gente. Juntaram-se artistas plásticos, poetas, cineastas e em seguida o Chico Buarque e a Elis passaram a nos apoiar”.

O exílio de Caetano e Gil, obra da brutalidade e da burrice da Redentora, teve efeito contrário.A MPB, no geral, já era tropicalista. A ausência forçada dos dois próceres, mais ainda mitificou o movimento. Os espaços estavam abertos para artistas já estabelecidos, como Chico, Edu, Milton e outros recém chegados que vislumbraram vários horizontes adiante. O resgate de artistas como LUIZ GONZAGA, NOEL, CAYMMI, PIXINGUINHA e até VICENTE CELESTINO já havia acontecido. Bandolins conviviam bem com as guitarras, o baixo elétrico com o piano, a flauta com os teclados eletrônicos etc,etc. O TROPICALISMO nunca foi. Continua sendo. Mesmo nos dias atuais, seja no Brasil, na Europa ou nas Américas, ainda são defendidas teses acadêmicas e uma vasta literatura sobre o assunto está ai, à disposição. Surpreendente ? Nem para mim, que aos 11 anos, questionava: Tropicália ?

PEQUENO GUIA MUSICAL

CAETANO: Alegria Alegria, Tropicália,Soy Loco Por Ti America,Trio Elétrico,Irene e Os Argonautas.
GIL: Domingo no Parque,Lunik 9,Louvação,Back In Bahia , Expresso 2222 e Procissão.
GAL: Divino e Maravilhoso, Sebastiana,Que Pena, London London e Tuareg.
MUTANTES: 2001,Dom Quixote,Algo Mais,Baby, Top Top,Caminhante Noturno e Ando Meio Desligado.
E mais BETHÂNIA,TOM ZÉ,ANTÔNIO ADOLFO/TIBÉRIO GASPAR, JARDS MACALÉ,JORGE MAUTNER e vai por ai!

ACONTECEU:
– Enquanto assistia junto ào Caetano, do alto de um prédio, o desfile “contra” a guitarra, NARA LEÃO disse está indignada e envergonhada com seus pares à ponto de vomitar!
– Caetano expulsou de um bar,quase à porradas, o Geraldo Vandré, ao fragá-lo destrantando Gal Costa pela música BABY, principalmente pelo verso “você precisa aprender inglês”.
– GIL, curto e grosso: “A Tropicália era uma mistura de ASA BRANCA com o SGT. PEPPER!”

Torpedaço de Edgar Mattos.

Publicado: 30/03/2012 em Poesia

A ESQUERDA VAI ÀS COMPRAS ( NA 5ª AVENIDA )

 

                                                            EDGAR MATTOS

 

                    Era no tempo em que os Estados Unidos eram anatematizados pelas esquerdas como a  sede de todo o Mal.  Por isso, foi com muito constrangimento que minha colega Gildete*, secretária de educação de um estado do Sul, aceitou o convite da Embaixada Americana para visitarmos, em programa de intercâmbio, a terra do Tio Sam.

                    Os convidados éramos apenas quatro: além de Gildete  e eu, então secretário de Educação de Pernambuco, um técnico da secretaria de Educação de São Paulo, e uma assessora do MEC.

                    Como único representante do Nordeste e, a despeito da divergência política com os demais companheiros de viagem, todos extremados peemedebistas – á época um partido de respeito – não tinha com eles qualquer problema de relacionamento pois, pela minha atuação  nos encontros do conselho nacional de secretários de Educação, já lograra me fazer conhecido e respeitado.

                   Aliás, eles é que se sentiam incomodados de me ter como testemunha dessa (para eles) vergonhosa concessão feita ao “odioso imperialismo yankee”, de certa forma homenageado com a  visita de tão ferrenhos críticos. Até porque seria muito difícil disfarçar a enorme satisfação de todos em havermos sido contemplados com a grande oportunidade de conhecermos, a custo zero, a  organização educacional de um país com a dimensão política dos  “States”.

                     O programa da visita foi bem abrangente.  Percorremos o território norte-americano de costa a costa.  Estivemos em Washington, Boston, Portland, São Francisco, Phoenix e Nova York, em proveitosa viagem de trinta dias.

                     Em Portland, deu-se um fato que muito me divertiu. É que, á época,  uma das bandeiras dos sindicatos dos professores era a eleição do diretor de unidade de ensino pela própria comunidade escolar. E, até aquele ano – 1985 –, a única Secretaria de Educação a adotar aquele procedimento tinha sido a de Gildete que, orgulhosa desse seu pioneirismo, em cada cidade americana visitada fazia questão de indagar qual era o processo de escolha dos dirigentes escolares. Tudo com o vaidoso propósito de demonstrar que, no seu estado, as práticas eletivas excediam as vigentes no próprio país modelo de Democracia. Aconteceu que, para sua surpresa, em Portland, essa “democracite” ia muito além do que ela .supunha. Não só os diretores dos estabelecimentos de ensino mas também os próprios secretários de Educação eram eleitos pela população. É claro que não podíamos deixar passar essa oportunidade de gozarmos com a cara da nossa amiga cuja perplexidade com o inesperado resultado da sua pesquisa era bem visível.

– E aí Gildete, viu como você está atrasada ? Trate logo de implantar lá na sua terra esse sistema  e comece desde já a preparar a sua campanha eleitoral.

                   Inconformada por haver sido superada no que supunha ser o máximo da  atitude democrática, e, diante disso, preocupada com a legitimidade da sua própria nomeação para o cargo, Gildete começou a reagir contra a novidade.

– E se o secretário eleito for de partido diferente daquele do Governador como é que fica a administração educacional ?

  – São riscos da Democracia, minha cara Gildete – replicamos nós, sem contermos o riso ante a indisfarçável decepção da nossa amiga por haver sido defenestrada do pódio dessa ridícula competição por ela imaginada.

                        Choque maior, no entanto, tive depois ao testemunhar como são irresistíveis, mesmo para esquerdistas mais radicais, as seduções do consumismo. Para que se tenha ideia do tamanho do meu espanto, devo esclarecer que, no início da viagem, desde a nossa chegada em Washington, era risível a preocupação de Gildete em não se deixar fotografar junto a monumentos expressivos da história norte-americana como se a  documentação da sua presença no reduto do “inimigo” pudesse comprometer a sua imagem ideológica perante os seus correligionários.

                       Pois bem, estávamos em Nova York, na véspera do nosso retorno ao Brasil e era Natal. As ruas da “Big Apple”, decoradas com muitas luzes e muitas cores, fervilhavam de gente na habitual azáfama do comércio natalino, estimulado pelas ricas e criativas vitrines dos maiores e mais famosos magazines. Todos nós dispúnhamos ainda de um bom saldo da generosa ajuda de custo recebida do governo americano para prover a nossa manutenção, durante a missão cultural para a qual havíamos sido convidados.

                       Com muitos dólares sobrando na bolsa as atraentes ofertas das fantásticas lojas novaiorquinas tornaram-se, para a agora deslumbrada companheira Gildete, uma tentação forte demais.  Suficiente para quebrar os seus  pruridos ideológicos e superar os seus escrúpulos políticos. Compreensivo com as fraquezas humanas, achei até natural e justificável essa brusca mudança de atitude da nossa amiga, subitamente subjugada aos encantos da “american way of life”…

                      Só que ela não precisava ter partido para as compras com tamanha sofreguidão. Como se o Capitalismo fosse acabar no dia seguinte…

 

  • embora todos os fatos aqui mencionados sejam rigorosamente verdadeiros resolvi, por uma questão ética, esconder, sob um nome fictício, a identidade da minha colega, secretária de educação.

 

Santayana: homenagem
a Millor e a Chico Anysio

    Publicado em 29/03/2012

 

Se alguém achar o vento a favor contrário, entra com o que tem

 

O Conversa Afiada reproduz artigo de Mauro Santayana, extraído do JB online:

Dois gênios da filosofia política


por Mauro Santayana


A morte de Millor Fernandes e de Chico Anísio é mais do que a perda de dois grandes humoristas. Chico e Millor, cada um em seu espaço, foram importantes filósofos políticos, distanciados dos grilhões acadêmicos, e argutos observadores da realidade brasileira.


Millor não dispunha dos atributos do ator de Maranguape, capaz de usar duzentas máscaras diferentes, para expor os sentimentos e o ridículo da condição humana. Nele havia  a profundidade de reflexão, ancorada em uma erudição tanto mais ampla quanto menos pomposa. Ambos fustigaram a mediocridade e fizeram o povo pensar.


E me permitam defender uma categoria de pessoas a que também pertenço: aquelas que encontraram o seu caminho fora das escolas formais. Millor e Chico foram dispensados da moldagem do ensino tradicional, mas compensaram essa aparente dificuldade na formação dialética – e ética – do trabalho. Millor um pouco antes, no início da adolescência, ao entrar para a equipe de O Cruzeiro, e Chico, poucos anos depois, ao se tornar locutor de uma emissora de rádio.


Sendo um homem do espetáculo, e vivendo tantos e tão diferentes personagens, Chico Anísio teve a vida exposta, como um eterno caçador de experiências amorosas e pai  incansável. Uma psicanálise de botequim poderia explicar a sua afetuosidade insaciável, que o fez marido de tantas e tão belas mulheres, como resultado do mundo de ficção em que vivia. Os atores sempre adicionam à alma, ainda que não desejem, parcelas de seus personagens, como transplantes da emoção dos autores. Millor não era ator, mas, sim, um excepcional pensador. Essa foi a essencial diferença  entre os dois.


Ambos foram ácidos críticos da sociedade e aplicados defensores da verdadeira razão política. Chico exercia a sua cáustica vigilância no aparente desprezo pelas personalidades públicas. Ninguém soube caricaturar com tanta acuidade o parlamentar corrupto, do que ele, ao encarnar o deputado Justo Veríssimo. Já na fase final do regime militar, os telefonemas de Salomé, de Passo Fundo, ao Presidente João Batista Figueiredo, serviram, ao mesmo tempo, de crítica ao governo e de estímulo ao movimento de redemocratização em marcha. Millor ia muito mais fundo. Sua crítica não se limitava à política em senso estrito, aos governos e às instituições do Estado, mas atingia, em seu âmago, a sociedade contemporânea, com seus desavisos e submissão ao efêmero. Para isso, ele sempre se abasteceu dos clássicos gregos aos autores contemporâneos, passando, naturalmente, por Shakespeare, Goethe, Schiller, Molière, Racine e tantos outros. Ele era capaz de ir adiante das reflexões desses grandes autores, ao trabalhá-las em sua fulgurante inteligência. Ele usava a  erudição para resumir a sua visão do mundo em frases curtas, certeiras, surpreendentes, definitivas.


Não conheci pessoalmente Chico Anísio. Meu universo era outro. Não morando no Rio, fui privado de  convívio maior com Millor. Fazíamos parte, como tantos outros de nossos contemporâneos, do Círculo de Conceição de Mato Dentro que se reunia eventualmente no apartamento de José Aparecido, em Copacabana. Ambos fomos agraciados com o título de cidadãos de Conceição o que, para os que não conheceram Aparecido, nem a cidade na Serra do Espinhaço, pode não ter qualquer importância. A cidade de Aparecido, tão forte na história e no caráter de Minas, hoje, mais do que a Itabira de Drummond, não passa de uma foto esmaecida: mineradores estrangeiros a conspurcaram, ao dilacerar as  serras que a cercam e esvaziar a cidade de sua identidade e de seu caráter ancestral.


Entre as minhas memórias de Millor, há a de um encontro na terra de Aparecido, em que ele, Gerardo de Mello Mourão, Newton Rodrigues e eu mesmo – não me lembro se houve outros colaboradores – redigimos longo poema sobre o aniversário de José, naquele mesmo dia, e que se iniciava com a evocação da morte de Giordano Bruno na fogueira, em 17 de fevereiro de 1600. Os versos de Millor foram os mais fortes, mais limpos e mais significativos, naquele  “abc” em louvor do aniversariante.


As sucessivas  gerações  de homens brilhantes, que atravessaram o século 19 e fizeram a primeira metade do século 20, de Machado e Bilac, de Lima Barreto, de Belmonte e de J. Carlos; de Graciliano, José Lins, de Getúlio Vargas e de tantos homens de gênio foi sucedida por personalidades fortes da segunda metade do século passado, algumas das quais cruzaram o milênio. Chico e Millor, gênios vindos do povo,  em sua forma de ver o mundo e nele se integrar, foram figuras emblemáticas dessa geração singular na história do país.


Uma frase de Millor, inscrita na escultura que adorna a porta do apartamento de José Aparecido no Rio, pode resumir a sua atitude diante da vida: Se alguém achar o vento a favor contrário, entra com o que tem.


 

 

Para Maria do Rosário, decisão do STJ sobre estupro de vulneráveis “significa constituir um caminho de impunidade”

por Daniella Jinkingsrepórter Agência Brasil

Brasília- A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, manifestou hoje (28) sua indignação com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre estupro de vulneráveis. Ontem (27), a Terceira Seção da Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como estupro, de acordo com o caso.

O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.

A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. “Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”.

Para Maria do Rosário, os direitos das crianças e dos adolescentes jamais poderiam ser relativizados. “Ao afirmar essa relativização usando o argumento de que as crianças de 12 anos já tinham vida sexual anterior, a sentença demonstra que quem foi julgada foi a vítima, mas não quem está respondendo pela prática de um crime”, disse a ministra à Agência Brasil.

A decisão do STJ diz respeito ao Artigo 224 do Código Penal, revogado em 2009, segundo o qual a violência no crime de estupro de vulnerável é presumida. De acordo com a ministra, o Código Penal foi modificado para deixar mais claro que relações sexuais com menores de 14 anos é crime. “Nas duas versões [do Código Penal], o juiz poderá encontrar presunção de violência quando se trata de criança ou adolescente menor de 14 anos. Essa decisão [do STJ] significa constituir um caminho de impunidade”.

Maria do Rosário disse ainda que vai entrar em contato com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, para tratar do caso e buscar “medidas jurídicas cabíveis”. “Estamos revoltados, mas conscientes. Vou analisar a situação com o doutor Gurgel e com o Advogado-Geral da União para ter um posicionamento”.

Edição: Aécio Amado

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Nota pública da Secretaria de Direitos Humanos (CDH) sobre a decisão do STJ que incocentou acusado de estupro de vulneráveis

Sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que inocentou um homem da acusação de ter estuprado três meninas de 12 anos de idade, sob a alegação de que a presunção de violência no crime de estupro pode ser afastada diante de algumas circunstâncias, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) informa que encaminhará solicitação ao procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e ao Advogado-Geral da União, Luiz Inácio Adams, para que analisem medidas judiciais cabíveis para reversão desta decisão.

Entendemos que os Direitos Humanos de crianças e adolescentes jamais podem ser relativizados. Com essa sentença, um homem foi inocentado da acusação de estupro de três vulneráveis, o que na prática significa impunidade para um dos crimes mais graves cometidos contra a sociedade brasileira. Esta decisão abre um precedente que fragiliza pais, mães e todos aqueles que lutam para cuidar de nossas crianças e adolescentes.

Sobre o acórdão do TJ de São Paulo, que manteve a absolvição do acusado, com a justificativa de que as vítimas, à época dos fatos, “já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes e desinformadas a respeito do sexo”, consideramos inaceitável que as próprias vítimas sejam responsabilizadas pela situação de vulnerabilidade que se encontram.

Confiamos que o Poder Judiciário brasileiro fará uma reflexão sobre os impactos dessa decisão e terá condições de revertê-la, garantindo os Direitos Humanos de crianças e adolescentes.

Maria do Rosário Nunes
Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

Um Fusca sozinho não caberia a genialidade de Millôr Fernandes. Que aprendi de gostar ali pelos idos da adolescência. No tempo em que a Veja era um revista com um pouco de respeito e sua coluna semanal era leitura obrigatória. Um acervo valioso, um olhar privilegiado sobre o nosso país e sobre o mundo.

Millôr levita depois de uma vida inteira de geniais escritos, poemas, contos, livros, peças e charges e muito humor. Inteligente.

 

 

Frases famosas:

Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice.

Não é segredo. Somos feitos de pó, vaidade e muito medo.

Por mais imbecil que você seja, sempre haverá um imbecil maior para achar que você não o é.

Quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida.

Paz na terra aos homens de boa vontade. Isto é, paz para muito poucos.

 

Charges Famosas:

 

Poesia Matemática

Às folhas tantas 
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia 
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, 
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida 
paralela à dela
até que se encontraram 
no infinito.
“Quem és tu?”, indagou ele
em ânsia radical.
“Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa.”
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação 
traçando 
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. 
E enfim resolveram se casar
constituir um lar, 
mais que um lar, 
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade 
integral e diferencial. 
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes 
até aquele dia 
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu 
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos. 
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade. 
Era o triângulo, 
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração, 
a mais ordinária. 
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser 
moralidade
como aliás em qualquer 
sociedade.

Millôr Fernandes

    Millôr Fernandes morre no Rio de Janeiro aos 87 anos. Foto: Agência EstadoMillôr Fernandes morre no Rio de Janeiro aos 87 anos
    Foto: Agência Estado.

    Millôr Fernandes morreu aos 87 anos de falência múltipla dos órgãos na noite da última terça-feira (27), segundo informou o Cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, Rio de Janeiro. Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, contudo foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, o ano de nascimento aparece como 1924.

    A Capela 2 do cemitério estará disponível para o velório do escritor a partir das 18h desta quarta-feira (28) e ficará reservada até as 15h da quinta-feira, quando a cerimônia deve ser encerrada.

    Ainda não há informações sobre o horário em que a família de Millôr vai levar o corpo para ser velado e nem se após as homenagens ele será sepultado ou cremado.

    No perfil oficial do escritor no Twitter, uma mensagem postada nesta quarta diz: “o mestre foi… Nosso eterno carinho”. Já em outro perfil, a ex-editora do escritor, a L&PM, lamentou o fato: “que dia triste! O grande Millôr Fernandes morreu esta manhã, aos 88 anos”.

    Biografia
    Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, contudo foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, o ano de nascimento aparece como 1924. Perdeu o pai dois anos após seu nascimento e a mãe cerca de seis anos depois. “Tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus em absoluto não existia”, escreveu sobre a infância na capital carioca.

    Em 1938, deu início a sua carreira de jornalista, como repaginador da revista O Cruzeiro. No mesmo ano, escreveu o conto A Cigarra, ganhou um concurso da revista e foi promovido para o arquivo. Mais tarde, assinava a coluna Poste Escrito, sob o pseudônimo de Vão Gogo. Dirigiu também a revista em quadrinhos O Guri eDetetive, de contos policiais.

    Em 1940, começou a colaborar com com seção As garotas do Alceu, como colorista. Em 1942, fez sua primeira tradução literária, do romance A estirpe do dragão, da americana Pearl S.Buck. Em 1946, lançou Eva sem costela – Um livro em defesa do homem, sob o pseudônimo de Adão Júnior. No nao seguinte, sua participação na revista O Cruzeiro já atingia a marca de dez seções por semana. Em alta, encontrou-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, César Lates e Carmen Miranda nos Estados Unidos, em 1948.

    No ano seguinte, assinou seu primeiro roteiro para o cinema, com Modelo 19, filme que ganhou cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo, entre eles Melhores diálogos para Millôr. Em 1951, lançou a revista Voga, que não fez sucesso. Em 1955, dividiu com o desenhista americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, na Argentina. Nesse ano escreveu as peçasBonito como um DeusUm elefante no caos, que lhe rendeu um prêmio de Melhor Autor pela Comissão Municipal de Teatro, e Pigmaleoa.

    Em 1962, na edição de 10 de março de O Cruzeiro, passou a assinar como Millôr. Em 1969, foi um dos fundadores do jornal O Pasquim. Um ano depois, deixa a revista e começa a trabalhar no jornal Correio da Manhã. Em 1974, lançou a revista Pif-Paf, que fechou em seu oitavo número, por problemas financeiros. No ano seguinte, escreveu para Fernanda Montenegro a peça É…, que se tornou o seu grande sucesso teatral.

    Em 1996, passou a colaborar com os jornais O DiaO Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Ao longo se sua carreira, escreveu mais de 30 livros em prosa, três de poesia, além de mais de quinze peças para teatro. Depois de colaborar com os principais jornais brasileiros, passou a escrever para a revista Veja em setembro de 2004. Ele deixou a revista em 2009.

    Poemito atrevido…

    Publicado: 27/03/2012 em Poesia

    Para Ana Luiza,

    OLHOS BEM ABERTOS

     quando a noite

    enfim chegar,

    que teus olhos me vejam

    e possam

    me assistir

    assim por inteiro

    dentro de ti…

    Do Blog Vi o Mundo (www.viomundo.com.br):

    Dr. Arnaldo Lichtenstein: “Pistola de choque pode causar arritmia cardíaca e matar, sim”

    por Conceição Lemes

    O taser é uma pistola cujos “disparos” dão eletrochoque. O objetivo é paralisar possível infrator.

    Atualmente existem 700 mil no mundo. No Brasil, chegam a 15 mil. Aqui, está em uso pelas polícias de vários municípios e estados, como Rio de Janeiro, Acre, Bahia e Rio Grande do Sul. Deverá ser utilizada pelas forças de segurança do Brasil durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Tanto que governo federal, estados e cidades-sede já confirmaram que vão priorizar o uso desse tipo de armamento em instalações esportivas, estádios e seus arredores.

    É a mesma arma que no último domingo, 18 de março, matou o estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, 21 anos, em Sydney, na Austrália.

    “Embora seja considerada uma arma não letal, a pistola taser pode matar, sim”, adverte o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. “Evidentemente uma pessoa com doença cardíaca atingida tem mais risco. Se usa marcapasso, o aparelho pode desregular. Porém, uma pessoa saudável, hígida, não está totalmente livre de risco.”

    Carlos Alberto Lungarzo, membro da Anistia Internacional e professor titular aposentado da Unicamp, reforça: “O taser representa um grande perigo, pois a polícia ilude a população com o fato de que ele não é letal. Só que essa ideia embute falácias”.

    DA ‘FAMÍLIA” DE BALA DE BORRACHA, GÁS LACRIMÔNEO E SPRAY PIMENTA

    O taser integra a categoria das chamadas armas não letais, da fazem parte também o bastão de choque, as balas de borracha, o gás lacrimogêneo e o spray de pimenta.

    Parece pistola comum, mas tem uma “bala” diferente. O gatilho aciona um sistema de ar comprimido, que impulsiona o lançamento de dois dardos. Conectados à pistola por fios metálicos, os dardos podem atingir um alvo a quase 11 metros de distância. Os dardos penetram 2,5 cm na pele e transmitem descargas elétricas de até 50 mil volts, porém com baixa corrente. Essas ondas eletromagnéticas atuam no sistema nervoso central e interrompem os sinais que o cérebro emite para o corpo. A pessoa atingida fica, então, paralisada durante alguns segundos. Seus músculos se contraem, ela treme e cai.

    O choque pode afetar o corpo de duas maneiras:

    * O coração se contrai pelo estímulo elétrico. Se uma carga elétrica cai num determinado ponto desse ciclo cardíaco, ela pode desencadear uma parada cardíaca. É por isso que, numa reversão de arritmia com choque, o desfibrilador tem de estar sincronizado com esse ritmo.

    “Daí por que até um choque de tomada pode causar parada cardíaca, independentemente da amperagem ou corrente elétrica”, afirma o doutor Lichtenstein.

    * Um choque intenso, como um raio, paralisa os músculos, inclusive o  diafragma, e pode causar parada respiratória. “Lógico que o choque do taser é  mais fraco do que um raio, mas vários disparos seguidos numa mesma pessoa podem, potencialmente, ter esse efeito”, expõe o médico.

    “Mas não dá mesmo para garantir a inocuidade do taser?”, alguém talvez cobre.

    A resposta é não.

    Como no meio de uma briga de torcidas, por exemplo, dá para saber se o alvo tem ou não uma doença cardíaca grave? Impossível!

    E se essa pessoa, na queda, bate a cabeça no chão? Ela pode não morrer do choque, mas do tombo.

    “Além disso, abusando da idéia de que não é mortal, a polícia nos Estados Unidos, por exemplo, usa o taser com extrema frequencia, sem necessidade e com intensidade maior para atravessar a roupa”, alerta Lungarzo.

    FACILIDADE DE TRANSPORTE E USO, SEM DEIXAR MARCAS EVIDENTES, FAVORECE MUITO O ABUSO

    Nos EUA, segundo estudo da Anistia Internacional, de 2001 a agosto de 2008, 334 pessoas morreram após serem atingidas por taser.

    “Ao contrário do que são retratados, os tasers não são armas ‘não letais’”, diz Angela Wright, pesquisadora da Anistia Internacional lá. “Como são fáceis de transportar e usar, sem deixar marcas significativas, facilitam muito os abusos.”

    Um outro estudo da Anistia ns EUA, que inclui informações de 98 autópsias, descobriu que 90% das pessoas que morreram depois atingidas por “tiros” de taser estavam desarmadas e muitas não representavam ameaça grave.

    Entre elas, muitas foram submetidas a choques repetidos ou prolongados ou por mais de um policial de cada vez. Em pelo menos seis dos casos, os tasers foram usados em indivíduos com problemas de saúde, como convulsões, inclusive num médico que teve um acidente de carro após sofrer ataque epiléptico. Ainda meio tonto e confuso, começou a andar pelo acostamento. O policial mandou-o parar. Como não obedeceu, recebeu sucessivos “tiros”, por não obedecer a ordem. Policiais também têm usado os tasers em crianças, mulheres grávidas e até mesmo numa mulher com demência.

    “As armas de eletrochoque, como os tasers, foram lançadas para o uso geral antes de testes rigorosos e independentes sobre os seus efeitos”, preocupa-se Angela Wright. “Estudos existentes – muitos deles financiados pela indústria – concluíram que o risco dessas armas é geralmente baixo em adultos saudáveis. No entanto, esses estudos são limitados e têm apontado para a necessidade de mais compreensão dos efeitos de tais dispositivos em pessoas vulneráveis, incluindo aquelas sob a influência de drogas estimulantes ou problemas de saúde.”

    Não à toa a Anistia Internacional já pediu a todos os países que suspendam o uso dos tasers. Ou, pelo menos, reduzam drasticamente o seu uso.

    “O taser deve ser usado apenas imobilizar ou desarmar o agressor, desde que ele esteja armado”, completa Lungarzo. “Não deve ser empregado para imobilizar alguém que foge, mas alguém que ataca.”

    PS do Viomundo: Nesse domingo, 25, um homem de 33 anos morreu em Florianópolis (SC) após ser imobilizado pela pistola de choque.

    E bote ruindade nisso. Qual é a frase que melhor define o jogo de ontem?

    A bola está com vocês…

     

     

    A Nona…no toitiço desta segunda.

    Publicado: 26/03/2012 em Poesia

    Amém.
    Se Bach não tivesse nascido… a música erudita não poderia ser chamada de a única música eterna.

    Direto do feissibuki…

    Publicado: 25/03/2012 em Gréa

     

    Lavoura Arcaica

     

    Drama, 171 min. Direção e roteiro: Luiz Fernando Carvalho. Com: Selton Mello, Raul Cortez, Juliana Carneiro da Cunha, Leonardo Medeiros, Simone Spoladore e Caio Blat.

     

     

     

     

    Trata-se de uma versão ao avesso da parábola do filho pródigo. Baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, conta a vida de André (Selton Mello), que abandona a família em busca de liberdade. Incumbido pela mãe (Juliana Carneiro) de trazê-lo de volta ao lar, o filho mais velho de um clã libanês, Pedro (Leonardo Medeiros), parte atrás do irmão, encontrando-o em uma pensão interiorana.

     

    A partir daí, em uma narrativa bastante lenta, descobrimos os motivos que o levaram a sair de casa: o relacionamento proibido com a irmã Ana (Simone Spoladore) e, sobretudo, o autoritarismo do pai (Raul Cortez). Há uma bela passagem pela infância do personagem central, imbuída de grandes momentos visuais proporcionados pelo melhor diretor de fotografia que temos, Walter Carvalho (sem parentesco com Luiz). A trilha de Marco Antônio Guimarães alterna entre a discrição e o vigor.

     

    As filmagens aconteceram em São José das Três Ilhas, zona da mata mineira. Lavoura é o primeiro e até então único longa de Luiz Fernando Carvalho (que planeja levar ao cinema a obra literária “A Paixão Segundo GH”, de Clarice Lispector). Ele chegou a viajar ao Líbano para pesquisar sobre a cultura do país e adicionar elementos característicos à trama. Já tinha comprovado ser um diretor talentoso ao realizar produções não-convencionais na televisão.

     

    É louvável a maneira como conduziu a fita, com respeito ao texto de Nassar e ao mesmo tempo enorme originalidade. Impregnou o filme de lirismo e os diálogos são bastante rebuscados, o que deu um caráter teatral às interpretações. Luiz foi responsável também pelo roteiro por vezes improvisado, montagem e narração.

     

    Faz-se necessário comentar sobre as atuações. Selton Mello é realmente um grande ator e este é o trabalho mais desafiador que teve no cinema. Seu personagem simboliza uma espécie de ovelha desgarrada. O resto do elenco consegue dar um suporte para a atuação dele. Raul Cortez se sai bem como o patriarca, assim como Juliana Carneiro, pouco conhecida naquele momento pelo público brasileiro (fez carreira na França), Simone Spoladore (que fazia uma bela estreia no cinema) e Leonardo Medeiros. Caio Blat faz uma pequena e importante aparição como o irmão mais novo.

     

    Lavoura Arcaica recebeu vários prêmios no Brasil e no mundo (cerca de 50). É verdadeiramente uma obra-prima e que, portanto, merece ser vista. Pela longa duração e ritmo, não obteve sucesso comercial, mas certamente tem um lugar garantido entre os grandes filmes nacionais. A edição em DVD duplo traz making off, entrevistas com o elenco e o diretor, além da opinião de dois críticos estrangeiros.

     

     

     

    E N N I O    M O R R I C O N E

     

    Sempre fui fascinado por trilhas sonoras. Especialmente as escritas originalmente  para   determinados filmes. Quem não associa imediatamente aquela magistral coda de celos e violinos do filme Tubarão à algo ameaçador ? Aliás,foi mais ou menos nessa época que essa minha paixão aflorou, com as fantásticas trilhas de O Golpe de MestrePapillon. Na verdade, até alguns filmes fracos, não raro são contemplados com músicas maravilhosas pontuando suas cenas. Comédias,dramas,romances,suspenses,infanto-juvenis e até os “terris” já nos brindaram com verdadeiras maravilhas. E confesso que ainda jovem conheci canções e temas que ganharam vida independente de seus filmes.  Foi assim que já adulto, entre tantos gênios do ramo, um deles chamou a minha atenção em particular,pois ao sair do cinema corri à uma loja e comprei a trilha de A Missão. Mais que a surpresa de sabe-lo “italiano” foi descobrir tratar-se do mesmo autor daqueles temas clássicos do chamados “westerns italianos” do SERGIO LEONE.

    ENNIO MORRICONE nascido em 1928, recebeu seu diploma de trompetista em 1946 e em  1954 diplomou-se em Composição pelo Conservatório Italiano. Entre esses dois acontecimentos, escreveu músicas para as rádios mas só bem mais tarde entraria no mundo mágico do cinema. Longe do que se possa imaginar,MORRICONE trabalhou e montou grupos de música experimental  bem adiante do seu tempo, perfazendo uma ampla gama de gêneros como música aplicada e absoluta, o que o levou a escrever para o teatro e a TV. Até que compos a trilha de um filme sem muita repercussão ,IL FEDERALE, que resultou no convite para escrever para os westerns de Sergio Leone. Na verdade,se os filmes eram mesmos bons (alguns viraram referência)eu nem lembro,mas o fato é que a música de Por Um Punhado de Dólares; Por Uns Dólares A Mais; The Good,The Bad and The Ugly  ; Era Uma Vez No Oeste  e outros tantos, era simplesmente soberba.

    Longe de se espraiar em berço esplêndido, MORRICONE,sempre inquieto,continuava “experimentando”,o que culminou com a fundação da “Nuova Consonanza”, um grupo de improvisação, junto à outros colegas. Mas, voltando às músicas dos “espaquetes”, sua competência  conquistou corações e ENNIO MORRICONE virou figura carimbada em Hollywood e mundo afora. Apesar de ser requisitado pelos maiores produtores internacionais, de ser várias vezes nominado ao OSCAR e outros grandes prêmios de enorme relevo, o sucesso nunca lhe subiu à cabeça. Sempre foi avesso às badalações. Imagine um músico que virou o “o favorito” de cineastas como Pasolini, Bertolucci,Montaldo,Lina Wertmuller,Brian de Palma,Tornatore,Polanski, Warren Beatty,Adrian Lyne,Oliver Stone, Almodovar ,Joffé entre tantos outros ?  Ah…tivesse sido eu o compositor/arranjador/condutor  das trilhas sonoras de CINEMA PARADISO; A MISSÃO; ERA UMA VEZ NA AMÉRICA;OS INTOCÁVEIS; SACCO E VANZETTI  e … põe filme nisso ! Acho que eu seria muito chato! Mas ENNIO ? Prefere discretamente continuar regendo as maiores orquestras do mundo. Só isso!

     

     

    EU TENHO É PENA.

    Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, conhecido como Chico Anysio (Maranguape, 12 de abril de 1931 — Rio de Janeiro, 23 de março de 2012)

     

    Um belo vídeo que homenageia Chico Anísio. O homem que inventou e reinventou o humor televisivo brasileiro. Um gênio:

    Leminski. Sexta-feira santa.

    Publicado: 23/03/2012 em Poesia







    A DROGA DA OBEDIÊNCIA ( publicado em 12/11/2010), com os comentários da Poeta Magna. De novo. E Amém.

    Assisto estarrecido entrevista na globo news com a Dra. Maria Aparecida Moysés, do Depto de Pediatria da Unicamp – SP.

    O Brasil já é o segundo país do mundo (só atrás do tio Sam) em prescrição da Ritalina.

    A droga da obediência.

    Nos ensina a referida Dra., que a Ritalina tem semelhanças em escalas diferentes, com as anfetaminas, a codeína e a cocaína.

    E nos relata que a maioria dos jovens que foram medicados a vida inteira com essa droga , vão em seguida,  dar os seus saltos para o crack, a cocaína e outras drogas semelhantes. Porque tudo é uma questão de hábito e de dependência.

    Estimulantes procuram seus iguais.

    Em 2004, após ler o excelente livro Mentes Inquietas, me considerei um velho com TDAH – Transtorno do Déficit da Atenção e Hiperatividade.

    Não conseguia me concentrar, estudar.

    Meti Ritalina no quengo durante um mês. Se sofrimento tivesse medidas e pudesse ser pesado, eu diria que levei um tiro de doze na caixa do peito. Nem completei os 30 dias. Foda-se Ritalin.

    Fui curtir a Rita Lee.

    Os quatro Cavaleiros de Liverpool.

    A MBB – Música Brasileira da BOA.

    E quanto escuto qualquer pai falar que quer medicar seu filho porque ele não está se concentrando, está com notas baixas etc e tal eu às vezes pergunto, outras me calo, outras até choro, de dó daquele coitado.

    Minha pergunta sempre é: tú tivestes infância?

    Que infância teu filho tem ou teve?

    Brincou bastante? Sujou os pés, as mãos, subiu em árvores, passou o dia fora na rua batendo bola num campinho? Não?

    Então você pelo menos esteve ao lado dele o escutando? Afeto, respeito, carinho. Inclusive com a mãe deles. Fundamental !!!

    Normalmente não  há prosseguimento neste tipo de conversa.

    Ninguém quer escutar conselhos. Conselhos não servem prá nada.

    Mas se alguém me escutar neste grito solitário, por favor:

    RITALINA NÃO MAMÃE. RITA LEE E MUITO AMOR E UMA ESCUTA ATIVA. MUITO ROCK AND ROLL, MBB, PRAIA, TEATRO, PARQUES, CAMINHADAS, APERTO DE MÃO, ABRAÇOS, BEIJOS. SUFOQUE SEUS FILHOS COM BEIJOS E ABRAÇOS. TEM UM PODER DE CURA EXTRAORDINÁRIO.

    Substituem qualquer droga, mas qualquer droga mesmo.

    Mesmo nos casos de diagnóstico preciso, exato, de algum transtorno de hiperatividade, a médica em questão diz que nunca prescreveria Ritalina. Em nenhuma hipótese.

    Fica aqui a minha prece.

    E O ENRIQUECIMENTO POÉTICO COM AS SEMENTES DE AMOR DE MAGNA, A POETA:

    “Domingos, muito bom trazer o assunto à pauta. Deixo indicação de um livro que reflete um pouco mais: “Somos todos desatentos? – O TDAH e a construção de bioidentidades” de Rossano Cabral Lima. Não assisti à matéria que você falou, mas há um ano vi uma no JN, a qual trouxe a informação de um aumento de 600% de prescrição da droga(pode?). Logo após, recebi por email uma manifestação da ABDA(Associação Brasileira de Deficit de Atenção) totalmente contra a matéria e “apedrejando” uma pediatra(veja, só foi uma) que falou contra a medicação. Disse o Dr. Marco A. Arruda sobre a médica: “Ignora ela o impacto que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade causa aos portadores, seus familiares e a sociedade como um todo, ignora ela que menos de 1% dos portadores são diagnosticados e tratados em nosso país”. E aí eu fiquei me perguntando: se menos de 1% são diagnosticados e o aumento da prescrição foi de 600%, como seria se 100% fosse diagnosticado? O fato, meu amigo, é que fanatismo não existe apenas na religião.
    Não é negar a existência do TDAH, mas enquadrá-lo realisticamente.
    Enfim, como vê, acabo me envolvendo com o tema. Questão profissional. O livro, no entanto, traz mais e melhores considerações. Não é à toa que, atualmente, buscamos explicações no nosso corpo para o que antes entendíamos como subjetivo.
    Vamos em frente cuidando de nossas crianças.
    Abraços”.
    Magna

    PS – Magna depois nos avisa que, não foram 600% e sim de 1.000% o aumento na prescrição da droga.

    Leci Brandão: Nosso racismo de cada dia

     

    A Organização das Nações Unidas instituiu o 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em memória do Massacre de Shaperville, em 1960, quando 20 mil jovens negros de Joannesburgo, na África do Sul, protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular.

    Por Leci Brandão*

    Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou na multidão e o saldo da violência foram 69 mortos e 186 feridos.

    No Brasil, nunca tivemos uma lei do passe explícita, mas, cotidianamente, vivemos as limitações de quem não exerce plenamente sua cidadania. E esses limites podem ser mais perversos, porque não limitam apenas o ir e vir, mas impedem que as pessoas vivam plenamente sua autonomia e liberdade.

    Sempre que a polícia persegue um cidadão negro, alegando que este estava em “atitude suspeita”, ou quando seguranças dedicam especial atenção aos cidadãos negros que entram nos supermercados, estamos diante da prova palpável da existência do racismo forjado em nossa herança escravocrata, que faz suas vítimas cotidianamente e que mostra que somos punidos toda vez que tentamos ultrapassar os limites impostos a nós pela sociedade.

    Em São Paulo, a imprensa diariamente mostra casos de violência racial e as estatísticas comprovam que o número de denúncias desse tipo de crime tem aumentado no Estado. Contudo, mais grave do que constatar a permanência do racismo é perceber a banalidade e passividade com que esses casos vêm sendo tratados.

    O mais recente aconteceu no último dia 17, em Embu das Artes, quando o ajudante de caminhoneiro Ivan Romano foi agredido por dois jovens. Os agressores estão presos por tentativa de homicídio e a acusação de racismo está sendo investigada. Na semana passada, o músico Raphael Lopes chamou a polícia durante um show de comédia, após ser comparado a um macaco por um humorista. Em dezembro do ano passado, a estagiária Ester Cesário, de 19 anos, afirma ter sofrido discriminação no Colégio Internacional Anhembi Morumbi. Segundo Ester, a diretora da escola teria reclamado de seus cabelos e recomendado que ela os prendesse e alisasse.

    Tais casos não são isolados. O racismo em nosso país está impregnado na sociedade, que considera normal o fato de negros receberam salários mais baixos e terem menos anos de estudo e, ao mesmo tempo, faz um estardalhaço toda vez que se propõe políticas afirmativas voltadas para a população negra.

    É inegável que o racismo cotidiano permanece, mas é inadmissível que ele não seja contestado, que seja banalizado. Para combatê-lo é fundamental termos o amparo legal e a criminalização de práticas racistas, mas devemos olhar com prioridade para a educação e a cultura como ferramentas.

    Na Assembleia Legislativa de São Paulo tramitam mais de 40 Projetos de Lei para a promoção da Igualdade Racial. Boa parte deles é relacionada à educação e à cultura. É importante que a sociedade se mobilize e sensibilize os demais deputados para a discussão e aprovação desses projetos que apontam caminhos para combater o racismo e suas consequências desastrosas, que impedem qualquer tentativa de construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

    * cantora, compositora e deputada estadual pelo PCdoB

     

    Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

    Clarice Lispector

     

     

    Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas… continuarei a escrever
    Clarice Lispector


     

    Tá explicado.

    Bem que houve uns torpedaços de Londres aqui para o Fusca.

    Mas meu inglês é very bad. Yes I Don’t como diria Juca Chaves.

    Era a turma de Macca querendo saber o dia do aniversário do Cara. Johnny B Good.

    É HOJE!

    O ANIVERSÁRIO DE JOÃO CARLOS É HOJE FUSCOPOETAS!

    E o que dizer?

    Falo da alegria, do bom humor, da presença de espírito?

    Falo da luta, da honestidade, dos talentos mil?

    Falo da amizade, do conciliador, do ombro e do ouvido atentos?

    Falo de Candeias? De Yellow House? Dos Selvagens?

    Sobra um taquinho para o Ave Sangria?

    Falo do seu amor para os seus filhos, pai exemplar que é?

    E do seu amor de toda uma vida, sua companheira, seu amor infinito, sua musa.

    João Carlos nem se resume a isso aí.

    Essa é só e tão somente uma pequena parte da luz que nos cabe conhecer do amigo Johnny B Good.

    E  mais não digo.

    Quem diz são vocês.

    Á guisa de, os comentários irão subindo e poemaços que são irão compor nossa caixinha de aniversário.

    Nossos humildes presentes, nosso ouro, incenso e mirra para o Rei de Candeias & Além Mar.

    Porque esse é o nosso João Carlos de Mendonça.

    Que hoje cumpleãnos. Simplesmente.

    Bem aventurados os mansos porque herdarão a terra.
    Bem aventurados os bem humorados porque verão o Reino dos Céus.

    E vamos ao som de Macca, cujo ingresso vai custar uns dois Chicos. Mas todos irão com certeza.

    Tudo vale a pena se a amizade não é pequena.

    Valeu João. Coração de Estudante. Coração de Gigante.

     

     

    Queixa de defunto

    Lima Barreto

    Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, a Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tornar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:

    Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que se chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não.

    Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem em cousa alguma de reivindicações e revoltas; mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.

    Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte um sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensa mento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.

    Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos “bíblias”, nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.

    Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda eloqüência em galego ou vasconço.

    Segui–as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. E bom, meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.

    Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.

    Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanha mento tiveram que atravessar em toda a extensão a Rua José Bonifácio, em Todos os Santos.

    Esta rua foi calçada há perto de cinqüenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e larguras, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.

    Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranha duras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:

    — Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem-comportado — como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?

    Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.

    Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc. Posso garantir a fidelidade da cópia a aguardar com paciência as providências da municipalidade.