Arquivo de julho, 2011

Dedicado a Mário Quintana no dia do seu aniversário.

 

Manhã de Shopping. Manhã de Sábado. Lido e relido o Sábado Som,  pernas para o mundo. Depois dos belos comentários que enriquecem e nutrem a nossa convivência por aqui. Sempre.

Mesmo nas férias, cabe ao sábado a tarefa das coisas não cumpridas durante a semana. Vira hábito. Mesmo que se tenha o tempo esborrando nas gavetas de cada dia, o sábado é quase um empregado matinal das atividades incompletas.

Às vezes dói. Vontade de dormir mais um pouco. Vontade de nadar no nada. É…

Mas, dentro da loja de produtos naturais, quase me perco com o cenário que me deparei. Rápido como uma fuga de Bach. Um Allegro em piano rasgante. Segundos que ficaram na memória do coração que os olhos mal puderam enxergar. Um átimo. Estonteante.

Perdido no mundo dos gergelins, quinoas, farinhas de linhaça, tantas coisas boas. Ditas boas. Talvez placebos da modernidade. Alimentos funcionais. Sei lá o que é isso! Um jabá com feijão preto e farinha e pimenta é de uma funcionalidade… Dessas eu entendo. Mas Ana quer, está a fim. Estou com ela. Gosto mesmo de vê-la correr na Jaqueira enquanto eu me arrasto naquela pista. Já devidamente decifrada pelo broda Arsênio.

Quando escuto um sorriso de uma menina. Umas sílabas de contentamento na língua da felicidade infantil. Procuro saber quem é a jovem. Olho atrás de uma prateleira: é de uma luz, de uma poesia! Ela e a mãe. Trocam olhares, sorrisos, novos sorrisos  e ela tem tanta beleza, que meus olhos não conseguiram ver o que outras pessoas talvez tenham visto e que eu vi depois. A menina estava sentada numa cadeira de rodas. Braços fininhos, pernas tão pequeninas! Mas uma alegria e uma vontade de viver tão intensas…

Voltei para a fila. Encaro duas jovens. Novinhas também. Com a mãe visivelmente envergonhada. Não entendia direito, pois meu giro de 180 graus ainda me deixara tonto. Ainda estava embriagado da alegria doada pela menina a todos que estavam na loja. E que dever ser assim na sua vida.

Custei a entender, a voltar para o mundo real quando o exercício de enxergar outros poemas me pôs diante de um casal de meninas adolescentes com feições de meninos, namoradas, felizes e mesmo diante de uma mãe constrangida, estavam na fila radiantes com uma dessas farinhas ditas funcionais. Abraçadas , sairam da loja de mãos dadas. Como muitas vezes saímos também com as nossas amadas e amados. Toda forma de amor vale a pena. Bituca também tem razão de montão.

Me pus logo a sair da loja assim que paguei pelas mini-compras.

Me pus a não pensar em mais nenhum poema que encontrasse pela frente.

Nâo entendia a mãe das jovens direito. Julguei-me mal. Até me senti preconceituoso por talvez ser-lhe solidário. Foi não. De certa forma eu havia praticado algo que não é da minha rotina. Os corpos falam mesmo. São poemas de todas as cores.

Mas ainda estava incompleta a minha manhã. Ainda encontrei um vizinho. Que sabemos é nosso vizinho. Por sabermos de morarmos no mesmo edifício. E apenas isso. E ele para aos nos ver e nos cumprimenta. Não conseguimos esconder nossa surpresa. Parecemos velhos conhecidos. Trocamos sorrisos. Ele quase nos abraça sem mexer as mãos. Apenas com as palavras nos despedimos ao ouví-lo dizer: – foi um prazer revê-los.

Cheguei a conclusão de quem tanto poeta neste mundo, que um simples caminhar de manhã em um lugar quase delegante à poesia ,transforma-se numa São Silvestre de encontros inesperados. E bons. E saudáveis. Maior do que qualquer alimento funcional.

 

PS – No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
         que o vento não conseguiu levar:
         um estribilho antigo
         um carinho no momento preciso
         o folhear de um livro de poemas
         o cheiro que tinha um dia o próprio vento…

Mário Quintana

D J A V A N

Meio-campo do infantil do CSA, Djavan sonhava  Recife (Santa, Sport, Náutico ?) e de lá para o sul. Naquele tempo o sonho parava na Seleção Brasileira. Não se permitia devaneios com os euros do Barça, Real e que tais. Mas, garoto pobre da periferia de Maceió, o menino foi apresentado à música pelo pai de um colega do Primário e virou habituê da coleção de LPs do Dr. Ismar Gatto. E essas viagens sonoras por estilos, timbres e rítmos diferentes foram afastando-o da bola e trazendo-o para o violão. Autoditada, era nas bancas de revistas que frequentava que Djavan enriquecia suas habilidades, colecionando manuais de “harmonias cifradas”.

Violonista e “crooner” da banda LSD (Luz, Som, Dimensão) , ralava nos bailes e boates da cidade cantando MPB e os sons do mundo. E já nesse tempo esboçava suas primeiras criações sempre rejeitadas pelo LSD (o conjunto), segundo o próprio,com razão. Eram fracas. Mesmo assim, largou o grupo e foi fazer “voz e violão” nos barzinhos da orla, onde foi pegando as “manhas” musicais de sambas, bossas, rock e jazz.
Antes de descer pro sul, resolveu morar em Recife na casa de uma prima, cujo marido não parecia muito feliz com a idéia. Empregado na Fratteli Vita, carregando grades de guaraná, gasosas de pera e maçã , à noite, livrava mais uns trocados cantando em bares.

De Recife  tomou o caminho inevitável para o Rio de Janeiro onde já chegou de aliança na mão esquerda. Realmente, Djavan não dá pistas desse seu primeiro casamento, mas a verdade é que por mais que insistisse as portas não se abriam e ele só não desistiu pelo apoio que recebia da esposa. Mesmo cantando em casas famosas da cidade, não era notado pelas gravadoras até que, através de um conterrâneo, Édson Mauro, chegou à Som Livre, gravadora da poderosa Globo, responsável pelas trilhas de novelas e programas da emissora. A novidade e a modernidade de sua música (sambas, baiões, toadas e baladas sincopadas com muito “jazzy”) não deslumbrou ninguém mas foi chamado para interpretar canções de outros autores (Dori Caymmi,Toquinho & Vinícius e os irmãos Valle) para as trilhas de novela. Ficou por ai até sua FATO CONSUMADO terminar levando o Segundo Lugar no Festival Abertura da Globo. Só então a Som Livre resolveu lançar seu primeiro disco. A VOZ, O VIOLÃO, A MÚSICA DE DJAVAN foi produzido pelo experiente ALOYSIO DE OLIVEIRA (que produziu de Carmem Miranda à Tom Jobim – Leiam CHEGA DE SAUDADE) e se não foi um estouro, deu credibilidade ao artista junto à seus pares e à EMI-ODEON, que o contratou. Em 1978 lançou seu segundo album e em sequência o disco ALUMBRAMENTO, onde Djavan aparece em canções com parceiros como Cacaso, Aldir Blanc e Chico Buarque. Apenas a turma do primeiro escalão da MPB.

Nesse ponto da história, a carreira do artista começou à florescer e os grandes intérpretes começaram à requisitar suas obras. GAL gravou  Açai e Faltando Um Pedaço, Roberto Carlos registrou A Ilha, Maria Bethânia, Álibi e Caetano Veloso regravou Sina, invertendo a homenagem de “caetanear para djavanear”, e depois, numa canção,citava “os blues do Djavan”. Pouco antes Djavan lançara dois discos definitivos e básicos: SEDUZIR e em seguida LUZ. Albuns recheados de biscoitos finos e bem “brasileirinhos pelo sotaque mas de língua internacional”. Boa parte desses discos, gravados nos EUA e contando com colaborações de músicos e produtores do quilate de Ronnie Foster,Stevie Wonder,Greg Philiganes (?) e Stanley Clarke. E na voz de Carmen McRae, Flor-de-lís virou Upside Down.

Até os dias atuais Djavan colecionou sucessos com músicas de absoluta originalidade e criatividade. OCEANO,ROMANCE,OBI,OUTONO, SOWETO,LILÁS e tantas outras,além de consolidar sua carreira internacional.De tão requisitados para shows dentro e fora do Brasil,o alagoano tem lançado discos com parcimônia que,invariavelmente são,no mínimo ótimos. E vale lembrar que o BOOM de sua carreira se deu nos anos 80 quando, o chamado rock tupiniquim dominava o mercado.Mas ele foi correndo por fora, bem ao seu estilo…djavaneando!

 

 

DIGITALIS CONSULT INFORMA:

Publicado: 29/07/2011 em Poesia

Arsenio Meira Junior | 11/02/2010 às 23:56 | Editar Por ordem, lá vai: Alvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Augusto Frederico Schimidt, Ascenso Ferreira, Cacaso, Ana Cristina César (belamente fatal), Antonio Cícero, DRUMMOND, Esse do violão não identifiquei, Cecília Meireles, Chacal, (não sei), (não sei), Cora Coralina, Cruz e Souza, Os irmãos Campos e no centro Décio Pignatari, Décio Pignatari e seu sorriso contido, Ferreira Gullar, seu conterrâneo Gonçalves Dias, Gregório de Mattos, Augusto de Campos, seu saudoso irmão Haroldo, não sei, não sei, Hilda Hilst, João Cabral, Guimarães Rosa, Jorge de Lima, não sei, Manuel Bandeira novo e velho (eterno eu diria), Mario de Andrade, o nosso Quintana, e… MURILO MENDES, Não sei, Oswald de Andrade, Oswald a filha e Pagu, Oswald jovem, não sei, LEMINSKI, LEMINSKI e ALICE, não sei, Décio Bahr, Vinicius de Moraes, Wally Salomão, Adélia Prado, Manoel de Barros, Baudeleire, Carlos Nejar, Florbela Espanca, não sei, não sei, Kerouac, Fernando Pessoa, Neruda, esqueci, Cobain, Camilo Pessanha, Silvia plath, não sei, Kafka, não sei, Rimbaud, Mário de Sá-Carneiro, Afonso Romano Santana, não sei, não sei, não sei, não sei, Whitman, não sei, Thiago de Melo, não sei, não sei, Mario Chamie, não sei, Elizabeth Bishop, não sei, (acho que é Agostinho, poeta angolano), não sei, Francisca Julia, Marina Colassanti, Aldir Blanc, esqueci, Lorca, Cazuza, não sei, não sei, Clarice Lispector ,não sei e São Tomás de Aquino.

NO TOITIÇO.

AMÉM.

O Fusca virou 2009 para 2010 embalado a mais de 100 km/h. Estou nestas férias relendo alguma coisa e quase que me vejo sufocando. Dá um nó na garganta. Choro, rio, sufoco. Engasgo. Não sabia, confesso. Sem frescura nenhuma. Não sabia que o Fusca juntou tanta água boa. Como uma cacimba a luz do sol que irriga, fertiliza e não aprisiona. Não SABIA CONFESSO. Essa idéia de lançar um blog foi longe demais. E agora é que não tem mais volta. SIM, O POST ERA TESOUROS E TINHA (TEM) ESTE VÍDEO REVISITADO. Foi ontem, dia 11/02/2010:

Garimpado do excelente blog: Ler e(des)construir – http://leredesconstruir.blogspot.com/

 

Coração de gente — o escuro, escuros.

Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.

Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.

No sistema de jagunços, amigo era o braço, e o aço!

Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de
estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.

O diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro!

O diabo na rua, no meio do redemunho.

O Arrenegado, o Cão, o Cramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé-de-Pato, o Sujo, o Homem, o Tisnado, o Coxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, o Canho, o Duba-Dubá, o Rapaz, o Tristonho, o Não-sei-que-diga, O-que-nunca-se-ri, o Sem-Gracejos… Pois, não existe! E se não existe, como é que se pode se contratar pacto com ele?

Quem muito se evita, se convive.

Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.

O que lembro, tenho.

Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. 

Quem mói no asp’ro não fantaseia.

Quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o
sentir da gente.

Vingar… é lamber, frio, o que outro cozinhou quente demais.

Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?

Ser chefe — por fora um pouquinho amargo; mas, por dentro, é risonhas flores.

Um chefe carece de saber é aquilo que ele não pergunta.

Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem.

Toda saudade é uma espécie de velhice.

Riu de me dar nojo. Mas nojo medo é, é não?

Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.

Tudo é e não é.

Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.

Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!

O sertão é do tamanho do mundo.

Sertão é dentro da gente.

O sertão é sem lugar.

O sertão não tem janelas, nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.

O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena.

O sertão é uma espera enorme.

Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas.

A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.

A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão e as vertentes do viver.

Manter firme uma opinião, na vontade do homem, em mundo transviável tão grande, é dificultoso.

Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.

Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães…

Feito flecha, feito fogo, feito faca.

Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.

Até que, um dia, eu estava repousando, no claro estar, em rede de algodão rendada. Alegria me espertou, um pressentimento. Quando eu olhei, vinha vindo uma moça. Otacília. // Meu coração rebateu, estava dizendo que o velho era sempre novo. Afirmo ao senhor, minha Otacília ainda se orçava mais linda, me saudou com o salvável carinho, adianto de amor.

(http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet148.htm)

Ivinho. Genial.

Publicado: 28/07/2011 em Poesia

Belo vídeo produzido por Fred Caminha. Ivinho no Festival de Jazz de Montreaux em 1978.Arrebentando com sua viola de 12 cordas, com um baita buraco e adivinhem : Macca escutando no auditório. Uma pena:- esse moço anda pelas ruas do Recife um pouco aéreo. Mas ele é de Yellow House, mas precisamente da Vila dos Comerciários. Diz aí João Carlos. O cara tocava muito. Acho que ainda toca , não sei.

 

http://carpinejar.blogspot.com
 

Sofri com a separação dos pais. Carregava a sensação de que tinha sido difícil, percebo agora que foi um desastre. Ao mexer no baú da família para catar flagrantes da infância, encontrei o álbum de casamento dos dois. Capa dura, nomes dos noivos em relevo dourado, livro grosso para eternidade mesmo, resistente às traças e porões.
Fiquei intrigado no momento de folheá-lo. Tive que sentar e interromper a pressa.
Voltei no tempo. No papel vegetal entre as páginas, havia desenhado o contorno das fotografias. Copiei à mão cada imagem, colorindo depois. São mais de 50 folhas transparentes preenchidas, duplicando pai e mãe no altar, reproduzindo convidados e bastidores da festa.
Na época (mentalidade de criança ferida), fiz uma cópia reserva das cenas. Raciocinei que os dois não seriam mais amigos, jogariam duas décadas de casados no lixo e providenciei um backup primitivo com o lápis Faber Castell HB2. Ansiei preservar a história usando as armas do estojo de 1ª série. Aproveitei meu conhecimento de copista do Pernalonga.
Lembro que não dei mole na separação: briguei com os irmãos, esperneei no sofá, chantageei no carro, planejei greve de fome, renunciei futebol, peguei recuperação, chorei no mercado, passei recreio no SOE, ia de um lado para outro da sala ao quarto para diminuir a distância das palavras. Olha, coitados de Carlos Nejar e Maria Carpi, criei um inferno para reconciliá-los, demorei a constatar que o paraíso deles também não era o meu.
Diante do flashback, eu me pus a comparar o que fui com o que sou. Todos, quando pequenos, sofrem com o divórcio dos pais, indicativo de trauma, término da idealização e receio de parar num orfanato. E todos, quando maduros, consideram a separação necessária e natural.
É impressionante o quanto nos esforçamos para manter os pais juntos, e não realizamos quase nada pelo nosso casamento na vida adulta.
E se lutássemos para entender nossa esposa como defendemos nossa mãe? Se realizássemos metade da birra feita com o pai durante a despedida de nossa mulher? Se trocássemos o orgulho da cobrança pela cumplicidade emocionada do erro? Se desejássemos falar menos e ouvir a voz dela mais um pouco?
Se fôssemos meninos para sempre, nenhuma separação seria fácil. O amor não morreria fácil. O papel vegetal protegeria as fotos.

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 26/07/2011
Porto Alegre (RS), Edição N° 16773


Será que vai dar Sarau?

Publicado: 27/07/2011 em Poesia

Quintana chama.

Os poetas reclamam.

Da chuva, dos buracos, do caos, de costas o prefeito,  a cidade sem prefeito.

Quintana olha.

Os poetas declamam.

Hai-kais de pé em pé com as almas felizes. Pouca coisa não . Nem na Noruega.

Em tempos de ultradireitismo ariano.

Nós que fazemos um país multiracial, mistureba de todos os continentes.

Um país que acolheu e acolhe povos de todos os cantos do mundo.

Onde se fala a mesma língua em mais de 8 milhões de quilômetros quadrados.

Qual lugar nos abrigará no próximo dia 30?

Pensei n0 Google Maps.

Despensei.

Vamos ver se poderemos nos ver.

Se a gente for né André nós vai. Com o imortal Adoniran afinando o cavaco e a voz.

Se a gente não for né André nós num fomo.

E ficamos por aqui mesmo. E por onde a Internet alcance.

E em paz.

Ou em linha reta, com Pessoa.

Espia , e tem Paulo Autran de voleio:

 

Para o nosso querido Edgar Mattos. Esse texto é uma aula para refletirmos sobre a nossa Educação.

MAIS UMA BOA AÇÃO DA FAMOSA PROFESSORA DO RN
A professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, acaba de emplacar mais uma aula de compromisso com a luta por uma educação de qualidade. A educadora que há alguns meses fez um pronunciamento para deputados do RN criticando a falta de prioridade dos governos para com a educação, agora lecionou nova aula de críticas à classe empresarial.
Amanda Gurgel foi escolhida pela classe empresarial para receber o prêmio PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais). A premiação é uma das maiores do País e é destinada a personalidades ligadas a defesa de várias categorias no Brasil. A professora negou o prêmio alegando que sua luta seria outra.
Confira abaixo a carta de recusa da educadora e saiba por qual motivo o cobiçado prêmio foi negado por ela.
Natal, 02 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho..
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE.
Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel.

Aritmética de uma amizade.

Publicado: 25/07/2011 em Poesia

Para o broda João Carlos de Mendonça.

Não é que eu fico “incrível” quando começo a passar um olhar sobre os teus Sábados Som, que terminaram ficando também nossos, tua sabedoria e sensibilidade de domínio público? Tua generosidade que agiganta o Fusca, que o faz melhor a cada Sábado Som, a cada comentário.

Tens aqui um livro. Tens aqui outro livro. De comentários.

Mas quero falar de outra coisa.

Que também pulsa no lado esquerdo do peito.

Que já foi motivo de tese defendida com galhardia por João.

A distância os amigos se mantêm. Mesmo que via Web. Mesmo que via Fusca. Não importa.

Não mesmo.

O título poderia ser o post. O post é o título e poderia terminar aqui que o meu recado para João estaria findo e eu descansaria em paz.

O blog é novo. É um menino sendo conduzido por um cinquentão. Já passou por crises tendo como principal motivo o Timba. O nosso querido CNC.

E pelas arengas, pelo vai não vai (com ou sem hífen?) o Fusca quase aderna. Quase…

Nessas horas o auxílio luxuoso de João me fez tecer essas linhas e mais essas:

1. Quando está alegre a sua alegria não interfere na alegria do outro. Sabe medir-se pela sua própria virtude e participa com sua amizade na exata medida que o amigo pode entender, compreender e ser compreendido. Sua alegria não atravessa o enredo, nem o samba.

2. Não importa se está com um ou mil problemas. Sabe medir-se também pela sua virtude imensa e não deixa que sua preocupação atinja o amigo. Nâo atravessa o seu próprio samba. Abdica do direito de externar a dor para que não soframos com ele. É nobre. Não sei ser assim. Gostaria que ele fosse de outro jeito? Não. João é João. Único e indivisível. Embora múltiplo.

3. Analisa com a ciência que estudou e com o academicismo da vida. Sem floreios. Sem retóricas vazias. É cheia a sua verve do que há de mais valioso nesta vida: a compaixão.

4. Nâo se deixa pavonear pelos elogios. É brilhante. Porém não se faz de rogado e embora humilde, também não faz uso da humildade para nada, pois ele existe assim e é muito maior do que qualquer elogio.

5. Pacifica. Não um Conselho Deliberativo. Isso é obra de políticos. João não é um político no sentido inútil e esnobe da palavra/conceito. Pacifica, o verbo, é o sentido humano da arte de adequar opiniões, contratempos, nuvens, sombras e trazer à luz a verdade. Pacificar um pequeno bosque/arvoredo que é o dia a dia de um blog. O que seria deste blog inútil como diria Fernando Pessoa? Como são inúteis todas as cartas de amor? Se não houvesse a sua demonstração quase que diária de que a paz se faz também pela palavra. Que a palavra pode nos fazer sorrir e que o sorriso é terapeutico, cura, desanuvia, nos faz melhores, mais leves, mais humanos e felizes. Sim, a palavra lançada uma a uma por João, ao longo desses quases dois anos , foram formando um dicionário de acordes. Uma sinfonia. Uma obra prima. Que é uma honra dividida por todos e para todos.

6. João não é chegado a elogios e sei bem disso. Talvez este post o incomode um pouco. Não é o meu objetivo. Me movo por gratidão. Pura e simples. Me tornei um ser humano melhor graças ao seu convívio. Um telefonema fantástico numa tarde morna virou uma noite com sol! A Internet tem sido a nossa mesa de bar, nossa cachaça e apenas uma vez pude lhe dar um abraço, um aperto de mãos, posar para um foto e foi na festa do meu aniversário. Presente triplo. Mega-sena.

7. João , que como ele mesmo testifica, já foi da noite. Hoje dorme cedo. Outra lição intrigante. Tento, mas minha crônica insônia me coloca frente a frente ou melhor “frontalmente” com o Frontal. E ele é o meu Pastor. Durmo tarde, mal, a custa de um comprimido laranja. João dorme cedo e acorda com a alvorada e sai para as suas corridas e caminhadas e isso é outra lição de vida. Estou aprendendo com ele.

8. O Fusca, hoje muito melhor em parte  graças ao seu auxílio luxuoso, já teria parado. Teria, mas continua firme. Ladeira acima. Turbinado. Graças aos empurrões. Poucos e preciosos e honestos puxões de orelhas. Sem firulas. João , quando “preciso” vai de canela mesmo, que o jogo é de campeonato. Mas vai. Não se omite. É mais que um jogador. Vale pela camisa doze também.

9. Eu disse muito. E talvez não tenha dito nem o quase, que dirá o suficiente. Mas é assim broda João Carlos de Mendonça, que lhe presto uma humilde homenagem, numa segunda-feira de sol, de trânsito modificado, de férias, indo para a Jaqueira, mas carregando o amigo no lado esquerdo do peito.

10. Forever Young mister Johnny B. Good. Forever Young. Se existisse uma expressão em inglês, no meu inglês analfabético seria essa. Tema de música, leme de vida, mote de poema, marca de um amigo.

Um grande abraço

Domingos Sávio

Carlito Maia. Sempre. Foi ontem.

Publicado: 24/07/2011 em Poesia

ABeCeDário
(Frases)

Carlito Maia
A – Z, Julho 1989


A Ilha da Solidão é cercada de mágoa por todos os lados. Eros aniquilado, Thanatos reina sobre o Nada.

Brasília, urgente: queremos eleger um verdadeiro Presidente!

Chaplin, há 10 anos, e o Chê, há 20: santos se transformam em religião.

“Deus seja louvado” (está escrito nas notas de quinhentos). Pois lhes cairia melhor um “Deus nos perdoe”.

Evite acidentes: faça tudo de propósito.

Faço até o que não gosto, mas o que eu não quero eu não faço.

Gravata: deixei de usar porque sentia um nó na garganta.

Homem está em falta. Machão tem a dar com pau.

Itália: a democracia melhor do mundo! (Amor Pertini.)

Justiça será feita quando o justiçado puder dizer como deve ser feita a justiça.

Karl Marx combatia o capital; Lafargue, seu genro, era contra o trabalho. Família ideal, gente do baralho.

Liberdade sexual é foda.

Meta o pau na camisinha. Faço como a galinha: cuide bem do seu pintinho.

Não leve a mal: vim ao mundo a passeio, não em viagem de negócios.

Olívia, amostra grátis do céu, Musa do Terceiro Milênio. Eu te adoro, neta primeira e única.

PT: estrela vermelha, astral azul. A luz no fim do túnel. Pura Tesão.

Quando me fecham as saídas, escapulo pelas entradas.

Rio de Vaneio: é alto demais o preço do mar e da montanha.

Suicíndia é um país que convive com o nosso: mistura de Suíça das contas numeradas e Índia das turbas esfaimadas.

Também, pudera, nasci em Minas Gerais! (Mineiro não fica doido, piora.)

Uma vida não é nada; com coragem, pode ser muito.

Vivo livre e solitário, qual uma árvore. Porém, solidário como uma floresta.

Wallinho Simonsen: rico, mas não rico só de dinheiro.

Xerox da “Redentora”, a “Nova República” nada tem de original. Apenas Ulysses, era só o que phaltava.

Yestergay’s: que tal este nome para um bar de bichas históricas?

Zas-trás: acabou-se o que era doce. FMI.


Carlito Maia (Carlos Maia de Souza), nasceu em Lavras (MG), a 19/02/1924. No início dos anos 30 veio para São Paulo (SP). Segundo seu depoimento, nunca freqüentou escola e foi, sucessivamente, “moleque, lavador de xícaras de café, rebelde, office-boy, contestador, reservista de 2ª categoria (Exército), antifascista, sargento da FAB, boêmio, despachante policial, picareta, corretor de seguros, clochard, ajudante de despachante aduaneiro, bon vivant, tradutor público juramentado”. Mas pisou pela primeira vez na trilha do sucesso no dia 19-02-54, quando completava 30 anos. Levado pelo irmão Hugo Maia de Souza, prestou exame na Escola de Propaganda do Museu de Arte Moderna. Passou em primeiro lugar, chamando a atenção do presidente da mesa examinadora, Geraldo Santos, que se tornou seu amigo e o levou para ser “contato” na agência de publicidade McCann-Erickson, onde foi atender à conta da Good-Year. Sua carreira de sucesso na área de propaganda o fez trabalhar nas grandes empresas do setor no Brasil: Atlas (onde ganhou seu primeiro prêmio – o “Souza Ramos”), Norton, Alcântara Machado, Magaldi, Maia & Prosperi (onde lançou a “Jovem Guarda”, “Calhambeque”, etc), P.A. Nascimento, Estúdio 13, Esquire e, finalmente, na Rede Globo, onde permaneceu por mais de 20 anos. Em 1978, foi eleito o “Publicitário do Ano”. Frasista dos melhores (“Brasil? Fraude explica“), foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), sendo de sua autoria os “slogans” “Lula-lá”, “OPTei”. Homem de oposição, certa vez declarou que
deixaria o partido quando este chegasse ao poder.

Em sua homenagem, foi criado, em 2000, o Troféu Carlito Maia de Cidadania, que premia pessoas que desenvolvem ações sociais em prol da cidadania e na luta pelos direitos humanos.

Carlito faleceu em São Paulo no dia 22 de junho de 2002, aos 78 anos.


Frases extraídas do livro “Vale o escrito”, Editora Globo, 1989, pág. 136.

 

EMERGÊNCIA

Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tú que estás numa cela,

abafada,

esse ar que entra por ela.

Por isso é que os poemas têm ritmo

– para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

 

A bola estava quicando muito antes de sua Caravela aportar aqui na Terra Brasilis.

Amy Winehouse, brincou um colega meu de trabalho quando comprávamos os ingressos, talvez chegue aqui a tempo. Resmunguei falando do carinho das minhas filhas, da importância de sua música para toda uma geração acostumada ao ruim, ao fel.

Geração que aprendia com os pais e com os seus ídolos. E agora tinha uma. Das grandes. Uma cantora e compositora, ainda por se fazer maior, um diamante ainda no começo do polir-se.

Vou guardar o ingresso. Sou mais um na multidão, mas quando escutava “Love is a losing game” ou a imortal “Rehab” acreditava que teríamos outros discos, outras vindas ao Brasil. Que ela iria pular a mágica pedra do vermelho 27. E chegar lá pertinho de Keith Richards e tantos que depois dos 30 sabiam que podiam brincar de cabra cega em meio a quilômetros de giz, papoulas, ampolas e garrafas.

Nem tanto Mestres. Nem tanto.

Amy levitou. Não deu outra. Acabara de sair de mais uma Rehab e talvez… quem saberá?

O resto fica por conta da mídia esgotando fotos, Twitters, Blogs, corridas para as lojas, uploads, downloads, a popstar agora é da Web. Sempre foi.

Fica o gosto de ter sido apenas um pixel, um nada, um nenhum a quilômetros de distância do palco de uma Amy trôpega, amparada pelo seu melhor amigo quando quis fazer um Pas de deux e caiu aqui na terra Recife, um passo de frevo rasgado para a eternidade.

Amy Winehouse.

Deixando o Sábado Som um pouquinho triste , que tristeza não cabe aqui quando temos nossas aulas com o broda João Carlos. Faço esta pausa e presto a minha humilde homenagem. Aprendi a gostar dela escutando Valerie em gravação voz e violão de aço. Valerie que não era música de Amy mas ganhou a alma da Judia Negra mais bela que Londres conheceu.

Agora se segurem os anjos lá por cima. A esta hora Jimmy Hendrix, Jim Morrisson, Kurt Cobain, Janis Joplin formam o “Quinteto 27”. O quinteto dos que não conseguiram dobrar o Cabo das Tormentas.

Amém.

KAREN CARPENTER

Meu pai tinha gosto musical eclético porém bem seletivo.Não confundia uma canção romântica bem escrita, de melodia e letra de qualidades e linhas harmônicas bem urdidas, com canções melosas, de música e versos óbvios. Por isso mesmo estranhei quando ele apareceu com aquele LP com a capa vermelha e um coração no centro,sob o título  A SONG FOR YOU – CARPENTERS.Meu primeiro pensamento foi: “Vixe Maria!”, mas na medida em que a canção-título ia rolando no toca-discos,com aquela voz linda (especialmente nos graves) e um solo magnífico de saxofone emergia sutilmente no meio da canção, e continuava crescendo até o retorno da voz solo, eu já estava maravilhado.
A SONG FOR YOU foi escrita pelo pianista de blues-rock,LEON RUSELL, ídolo de Elton John (apesar de serem quase contemporâneos).

Se não era de uma beleza estonteante,Karen Carpenter, não fazia o tipo “patinho feio”. Nascida em New Haven-CT, mudou-se com a família para a California,onde ficavam as sédes das grandes gravadoras, justamente porque seus pais apostavam no talento de seu irmão mais velho, RICHARD, que embora jovem, já era considerado um virtuose no piano. E este a socorreu quando Karen,que detestava as aulas de Educação Física,apelou para que o irmão, influente no high school, manipulasse para colocá-la na “banda colegial” onde a menina tocava tambor. E desse para a bateria foi um salto.Ela tocava tão bem que logo passou a integrar o Richard Carpenter Trio, que além dela e o irmão, contava com o contrabaixo de West Jacobs. Nessa fase,Karen submeteu-se à uma dieta alimentar sob supervisão médica chegando a perder 11 quilos.Outro acontecimento importante se deu quando Richard,enquanto elaborava um arranjo, pediu à irmã que cantasse e ficou extasiado com a beleza de sua voz. Mas não foi fácil convence-la disso e muito menos faze-la “crooner” da agora dupla CARPENTERS.

Mal começaram a se apresentar nas casas noturnas californianas, foram contratada pela EMI em 1969. O primeiro disco deveria chamar-se OFFERING mas ao ouvirem-na cantando uma releitura de TICKET TO RIDE, os executivos do selo resolveram que esse não só seria o título do LP como seria também a canção “de trabalho”. E realmente aconteceu. Tanto que quando se apresentaram numa festa do “high society” de Los Angeles, o maestro e compositor BURT BACHARACH, impressionado,ofereceu sua nova composição (They Long to be) CLOSE TO YOU à dupla. Música-título do secondo album,CLOSE TO YOU chegou ao Top da Billboard e Karen passou à integrar a seleta lista de intérpretes do popular maestro juntamente com Dionne Warwick, BJ Thomas e até Sinatra, entre poucos.

Mesmo o sucesso cada vez maior e a voz de veludo, bela e inconfundível de KAREN, não impediram a crítica de exagerar nos adjetivos pejotarivos, notadamente para repertório e os arranjos piegas de Richard, fato em si, realmente verdadeiro. Se no varejo, às vezes acertavam, como nos casos das citadas A SONG FOR YOU e CLOSE TO YOU, além de Bless The Beasts and The Children, B’Wana She No Home,This Masquerade e The End Of The World entre outras poucas, no atacado, o som dos CARPENTERS era mesmo uma “baba”. E certamente KAREN sabia disso, pois se aborrecia profundamente por não poder opinar sobre o repertório, tarefa exclusiva do irmão, que tinha “faro” para o sucesso. À esses aborrecimentos, somavam-se uma cada vez maior “falta de apetite” em Karen à ponto de turnês pela Europa e Japão serem canceladas e a cantora entrar numa fase de internamentos em clinicas especializadas, entre gravações e apresentações. Por seu lado, Richard começara a apresentar sintomas de dependência de “soníferos” que também o levariam à internamentos.

Pouco se sabia sobre a doença na época mas na verdade Karen sofria de ANOREXIA. Em um desses tratamentos chegou à ganhar 15 quilos à base de medicamentos em doses cavalares que afetaram  seu coração. Mesmo assim,com o afastamento temporário do irmão,a cantora convidou PHIL RAMONE para produzir o que deveria ser seu primeiro album solo,  casou-se com o corretor de imóveis Thomas Burris e foram “luademelzar” em Bora-Bora. Ela gostou tanto que chamava de “Boring-Boring” (aborrecido-aborrecido). O casamento foi um erro que durou 2 anos e a decisão da EMI de engavetar seu projeto solo foi a gota d’água.Voltou à morar com os pais com quem vivia desde os 25 anos (fora o período de casada) e continuou sua luta contra a anorexia.

Nem os apelos do genial Quincy Jones demoveram a gravadora de não lançar o disco de Karen que,afinal arcou com o prejuízo desembolsando cerca de US$ 400.000,00 pela produção. O disco continuou inédito mas algumas faixas foram incorporadas à algumas coletâneas e outras disponibilizadas na Inernet. Entre estas, duas pérolas de PAUL SIMON: I Do It For Your Love e Still Crazy After All These Years que,aliás eu tenho guardadas à sete chaves e,posso afirmar,prenunciavam um senhor disco. Mas a nossa NAT KING COLE de saia não pode ouvi-las. Às vésperas de completar 33 anos,  uma parada cardíaca resultante do uso de remédios (a autópsia idenficou como cardiotoxicidade) para anorexia nervosa, tiraram a vida de KAREN CARPENTER,a menina quase feia que tocava bateria e corações, com sua voz. E que voz!

 

 

 

 

Diário de Notícias de Portugal – 25/02/2006

Gisberta, nascida Gilberto Salce Júnior na cidade de S. Paulo, Brasil, há 46 anos, acabou morta no fundo de um fosso malcheiroso. A “mulher belíssima, muito cuidada, profundamente feminina e dócil”, que chegou a Portugal há uns 25 anos, agonizou mais de 48 horas até soltar o último bafo de vida. As notícias anunciaram a morte de um homem, mas é no feminino que a tratam as associações que privaram com o transexual e lhe prestaram auxílio: “Era uma senhora”, diz Raquel Moreira, do Espaço Pessoa, que lidava com “Gis” há quase dez anos.

Umas duas semanas antes de ser violentamente agredida no parque subterrâneo que lhe servia de casa, Gisberta confidenciou a uma técnica sobre “uns miúdos que de vez em quando apareciam na obra e se metiam com ela”, embora não tenha referido qualquer agressão. Aconselhada a sair, afirmou apenas: “Posso estar muito mal, mas continuo a ter a força de um homem, não vai ser por causa de uns miúdos…” Mas Gisberta há muito estava débil, fruto das maleitas do HIV e da hepatite, que a deixavam cada vez mais fragilizada.

Foi-se alterando o acompanhamento que recebeu do Espaço Pessoa ao longo dos anos. Quando aquela instituição abriu portas, em 1997, o contacto era feito através das equipas de rua, que lidam com a população que se prostitui. Gisberta, que em tempos havia feito espectáculos de transformismo em algumas casas gay portuenses, vendia o corpo na Rua de Santa Catarina. Nani Petrova, um dos travestis mais antigos da cidade, lembra mesmo que “Gis” chegou a actuar em bares míticos como o Sindikato e o Bustos, mas “não fazia do show a vida profissional, era mais prostituição”.

Todos assinalam a beleza de outros tempos e a sua cordialidade: “Era uma jóia, uma pessoa muito bonita, parecia uma rapariga autêntica, maravilhosa”, descreve Petrova, que a conheceu há “uns vinte anos”.

Também Raquel Moreira não esquece a beleza de Gisberta, entretanto destruída pela doença e pela toxicodependência. “Era uma mulher muito educada, muito dócil, diferente do que é normal encontrar na rua”, diz. Gisberta era uma “pessoa informada sobre a realidade nacional e internacional”, aproveitando os tempos que passava no Espaço Pessoa para ver os telejornais e comentar a actualidade com os técnicos e outros utentes.

Poemas imensos. Parte I.

Publicado: 22/07/2011 em Poesia

As Rosas do Tempo

Admirável espírito dos moços,

a vida te pertence. Os alvoroços,

as iras e entusiasmos que cultivas

são as rosas do tempo, inquietas, vivas.

Erra e procura e sofre e indaga e ama,

que nas cinzas do amor perdura a flama. [Carlos Drummond de Andrade].

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Huis Clos

Da vida não se sai pela porta:

só pela janela. Não se sai

bem da vida como não se sai

bem de paixões jogatinas drogas.

E é porque sabemos disso e não

por temer viver depois da morte

em plagas de Dante Goya ou Bosh
(essas, doce príncipe, cá estão)

que tão raramente nos matamos

a tempo: por não considerarmos

a tempo: por não considerarmos

as saídas disponíveis dignas de nós, que, em meio a fezes e urina

sangue e dor, nascemos para lendas

mares amores mortes serenas. [ Antonio Cícero ]

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Inscrição para uma Lareira

A vida é um incêndio: nela

dançamos, salamandras mágicas.

Que importa restarem cinzas

se a chama foi bela e alta?

Em meio aos toros que desabam,

cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,

na própria luz consumida…     [ Mário Quintana]

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FIM

Eu existo para assistir ao fim do mundo.

Nâo há outro espetáculo que me invoque.

Será uma festa prodigiosa, a única festa.

Ó meus amigos e comunicantes,

tudo o que acontece desde o princípio é a sua preparação.

Eu preciso presto assistir ao fim do mundo.

para saber o que Deus quer comigo e com todos

e para saciar minha sede de teatro.

Preciso assistir ao julgamento universal,

ouvir os coros imensos,

as lamentações e as queixas de todos,

desde Adão até o último homem.

Eu existo para assistir ao fim do mundo,

eu existo para a visão beatífica.   [Murilo Mendes]

Esta música …esta letra!

Publicado: 20/07/2011 em Poesia

Balada De Gisberta
Pedro Abrunhosa
Composição: (Pedro Abrunhosa / Pedro Abrunhosa)
Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe… (…)
E a dor é tão perto.

Agora é a vez do autor Pedro Abrunhosa:

Enquadramentos contábeis da vida:

Lição 1. Quando se casa o solteiro deixa de existir. Não o indivíduo. Mas a rua se abre para o solteiro e ele simplesmente vai embora.

Lição 2. A família da sua outra metade e meia vem a bordo, a bombordo e a estibordo. Nâo adianta, nada é mais parecido com a sua casa que a casa dos pais do seu cônguge.

Lição 3. Os filhos nunca mais te deixarão. Você deixa de existir na forma que veio ao mundo. Aquelas criaturinhas irão lhe tornar a pessoa mais feliz do mundo e é para sempre. Não importa no presente se já estão crescidas. Para você serão sempre suas crianças. E o mundo gira e você passa a entender seus pais. Que coisa.

Lição 4. A solitude do ex-riponga. Você costumava ir ao cinema sozinho, ao bar sozinho, sozinho ficava no banho, nos sonhos, na cama, na vida. Era solidão e solitude. Era demais, era de menos. Era muito, era pouco. Mas era. Você podia escolher. Tinha a namorada , tinha compromissos, mas havia as horas de nenhum compromisso. De completo relaxar. Mas isso não lhe bastava…

Lição 5. A Yôga entrou de graça neste post? Não, lá pelas bandas do primeiro ano de casório resolvi fazer Raja Yôga. Um colega de práticas evoluiu extraordinariamente bem ao ponto de me dizer: embora casado, hoje eu vou ao cinema sozinho e não sinto nenhuma culpa. Bingo !!!  Como esse cara conseguiu?

Lição 6. Arremedo da lição 5. A culpa é a mãe do Catolicismo, de todos os ismos falsos em nome do nosso Salvador. A culpa é a arma mais cruel e mais tirana já posta na face da terra. Nas costas de uma criança vira aleijão. No casamento vira mentira. A culpa dói como num conto de Kundera. Pesa, mesmo sendo sua leveza insustentável. A última das lições que espero ter nesta vida é me libertar dos grilhões da culpa. Sem culpa. Sem erros. Sem arremedos.Com acertos.

Lição 8. Todo Riponga deixa de ser à esquerda muito mais do que sua guinada à direita. Torna-se o mais disciplinado lacaio do capital que ele tanto combate.

Lição 9. Não há nada melhor do que os momentos felizes em família, principalmente os momentos fugazes, rápidos, cotidianos, mensageiros do reino Celeste , para desfazer qualquer dúvida sobre as lições anteriores e quem sabe até revogá-las.

Digitalis Consult informa:

Publicado: 17/07/2011 em Poesia