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CICLOS

Publicado: 06/05/2020 em Poesia

No futuro, quando 2020 houver se desmilinguido e como passou voando a Idade Média e seus séculos onde Deus esqueceu do mundo, habitaremos uma lembrança nascida aqui neste quebrar de ciclos, que também passou num átimo.

Sim, em 2020 o mundo acabou em pleno movimento. Tivemos que reinventar a capacidade de lutar contra a morte quase sempre e diariamente. Mas, valeu a pena.

O mundo que hoje se apresenta em nova morada é um mundo que nasceu das mortes, do vírus, do caos e do desespero.

Não poderia haver parteira melhor para que alcançassem a paz os que herdaram a Terra. São novos olhares, novos quereres e muitos solidários corações. O mundo passou a ser o mundo da Mãe Terra, Gaya, a Luz verde a nos guiar e os sete raios a nos iluminar com os Ascensionados Mestres.

Muitos se foram e a Terra não lhes cobra a falta. A Terra não se ressente da ausência de um código moral, ordenamentos jurídicos, organizações e multinacionais.

A Terra, a grande Mãe Azul apenas está com quem está ao seu lado pela vida.

Parece tão simples mas foi preciso um pequenino ser, invisível parasita para que tudo voltasse a normalidade.

Ciclos são eternos e neles se encaixam os corações. Desencaixam-se os ódios e as mesquinharias.

photo of beach during golden hour

Foto por Joshua Woroniecki em Pexels.com

NÃO SE APOSENTE DA VIDA.

Publicado: 28/03/2018 em Poesia

 

Andando pelas Jaqueiras da vida as pernas comandam tudo. Até os olhos percebem o compasso da caminhada e vão ora lentos ora acelerados buscando o conforto natural que as caminhadas trazem.

Tudo é tão claro certas manhãs e tão diferentes das noites que ouso dizer que é fácil viver. Noutros momentos , onde a inevitável dor nos alcança, a capacidade de enxergar diminui. Como se os olhos da alma duelassem com os olhos que o cérebro lança no mundo já não encontrassem capacidade de convívio e de paz.

Enquanto a volta para casa é pura festa e endorfinas fazem isso mesmo encontro um livro de Alice Ruiz. É outra festa para se comer hai-kais feitos com tanta maestria pela poeta dos meus sonhos e de tanto tempo compartilhados que às vezes parece que a conheço, já estivemos juntos, já não há essa distância impossível.

Olha ela me dizendo o quanto a vida é possível com um olhar dentro de olhares possíveis e benfazejos:

  1. Aqui as estações passam e cada uma vai deixando o seu perfume:
  2. “primavera
    até a cadeira
    olha pela janela”
  3. Aqui o tempo é soberano e a fotografia é imensa:
  4. Correndo risco
    a linha do corpo
    ganha seu rosto

Aqui é para acordar mesmo. Poesia e poeta imensas:

Lembra

 

Lembra o tempo
em que você sentia

e sentir
era a forma
mais sábia de saber

E você nem sabia?

 

A poesia é mais viva é mais verde é solar,

a poesia de Magna é encanto, é aquele lugar especial,

é o toque na nossa pele libertando nossos corpos.

A poesia é mais humana é mais terra é celeste,

a poesia de Magna é alento, é o colo da nossa mãe.

E findo esse mundo de intolerâncias, abre-se o mundo da espera vertida em esperança:

“Sim, a esperança passeia

Está ali
Bem pertinho
Em sala de aula
Aprendendo
Ensinando

Brotando”!

MAGNA SANTOS

O JARDIM? logo aí: http://sementeiras.com.br/

Magna me dando um poema que não pode ficar nos comentários, tem asas, tem de subir, é um poemanjo:

” Senti no toitiço o tapinha de amigo/ senti na garganta a lágrima entalada de mar…Ah, meu amigo, a generosidade é tua praia mais perto/ Pros amigos descansarem, se refestelarem, se paralisarem. Obrigada Domingos, obrigada por continuar nutrindo laços, alimentando afeto e cultivando a poesia que você conhece tão bem. Nosso fusca já não tem os mesmos passageiros de antes. ( Faz quanto tempo, meu Deus!!) . Na verdade, eles estão lá, bem ali, olhando o “waze” do percurso. Fazendo também o próprio caminhar na eterna estrada da vida que não se esgota nunca. Saudade recorrente é sinal de amizade, de carinho. Estes sentimentos também eternos. Deus te alimente os dedos. Deus te conceda a condição da serenidade para não deixares escapar nenhuma vírgula.

Abração cheio de emoção e afeto.

MAGNA

 

 

 

JOÃO TÁ INDO…

Publicado: 28/03/2017 em Poesia
  • Para João Carlos:

  • Passou mesmo como um cometa de sorrisos e frases inspiradas. Passou mesmo como um bom músico que havia acabado de lançar banda e CD na praça.
    Passou como o cara que sabia que não se deve brigar em lugar nenhum dessa vida e muito menos nas arenas virtuais da vida.
    Encontrei João nos últimos dez anos apenas duas vezes.
    Os outros encontros se deram no Fusca, o blog que nos reuniu durante alguns poucos anos mas que deu uma liga danada.
    Depois o Fusca enguiçou e viemos para o facebook onde nossas pelejas adentraram para política e outras cositas más.
    João era o cara que me suportava com toda a minha ira e minha desinteligência emocional.
    O amigo que partiu tinhas asas escondidas no coração.
    Sua coluna Sábado Som virou livro e João continuou voando e alçando suas conquistas.
    Outro livro e mais outro e CD e músicas e banda e a vida nos levando vertiginosamente.
    Hoje acordei com meu filho Daniel me informando da notícia triste de que João partira.
    João era um concerto nordestino desses que o sol teima em queimar e que resiste até as maiores intempéries.
    João era um tributo vivo à Paul McCartney que ele chamava de Macca em singela parceria e absoluta verdade. João era profundo conhecedor dos Beatles e sabia como poucos sobre Paul.
    João na verdade tá indo num gerúndio infinito e eterno.
    Ele não nos abandonou à toa porque tem muito amor aqui na Terra. Amor que ele plantou, semeou e deixou como florestas inteiras.
    João era uma floresta de amigos. Um cara plural.
    Nada nele era singular e está fazendo uma falta imensa, dessas que você passa a tarde entre não saber se vai ao velório ou fica escutando música para lembrar mais do amigo.
    Uma saudade dessas que só João saberia definir.
    Eu me calo diante da sua maestria com as palavras.
    Espero que o mano Arsênio o tenha recebido e agora estejam batendo aquele Clássico dos Clássicos com muita viola, cigarros e música.
    Que o Criador de tudo que há o tenha recebido com um coral de anjos e muita muita estória para ouvir o João contar.
    Até breve irmão passarinho.
    Nos encontramos num átimo de uma nota musical.

Duda Brama.

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Já nos legava o Marechal Jimmy Brown, o popular Maruca da Village Tamarineira, aquele popular filósofo da zona norte zen: quem sai aos seus não degenera.

E como vai dando errado o governo Temer com tão poucos dias de inescrupulosa tomada.

Uns dizem que é golpe, outros que é farsa, outros que tudo foi no devido processo legal.

Que nada.

O manual do golpe é antigo.

Vem com verbas do Tio Sam e para as repúblicas de banana da AL é mais do que suficiente.

Com a ajuda de um jornalismo escroto e com poucas e escrotas famílias no comando o poder volta aos 1% que possui mais de 45% da renda e do PIB nacionais.

E continuará dando errado até o fim que espera seja breve.

Fico com a poesia de Manoel de Barros, Alice Ruiz e Paulo Leminski para nos salvar do impoderável e da eterna luta entre o bem e o mal. Que particularmente em nosso país sempre deu ganho de causa ( injusta causa ) ao mal. Aos males. A casa grande:

Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito.

Manoel de Barros

amigo grilo
sua vida foi curta
minha noite vai ser longa

Alice Ruiz

acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
meu sonho virar pesadelo

Paulo Leminski

 

 

Os melhores juristas.

Os melhores arquitetos, urbanistas.

Os melhores cérebros. Os melhores artistas.

O povo em sua imensa maioria, simplicidade e sabedoria.

Todos são a favor do OCUPE ESTELITA  e contra esta aberração chamada projeto novo recife.

Que de novo não tem nada.

Em um leilão fraudulento.

Preço vil.

Três prefeitos no bolso.

Quatro câmaras de vereadores no bolso.

As empreiteiras pensam que podem tudo.

Mas Estelita é do povo como o céu do Condor.

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Que doidice pensei eu – saindo das redes sociais e retornando ao blog pelo livre expressar, pelo livre pensar e para fugir do politicamente correto.

Então tá:

Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas – é de poesia que estão falando.

 Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito.

Cristo foi um dos grandes poetas do mundo – tanto que já passaram 20 séculos por cima de suas palavras e elas são vivas e reviçadas todos os dias.

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

Não importa o seu partido se você ainda resguarda humanidade nos seus gestos.

Sua ideologia não me importa.

Nem seus conceitos  políticos, econômicos e administrativos.

Sua educação é importante.

Suas ações.

Sua maneira de estar no mundo.

Embora não simpatize com tucanos e outras aves de rapina…

sei que há gente boa nessas plagas/pragas.

Embora simpatize com petistas ou petralhas , sei que há

muita gente que não vale a pena , inclusive nos governos.

No governo que começa.

E vamos além dos números e previsões econômicas.

Muitas catastróficas.

Catástrofe mesmo prá mim é o racismo, a homofobia, o preconceito imbecil contra os nordestinos.

Catástrofe mesmo é não saber amar…

É viver de aparência:essa fina lâmina de alguns mílimetros que encobrem tanta feiúra…

Catástrofe mesmo é não se levantar depois da queda.

É não estender a mão…

É não abrir os olhos…

E não olhar para o céu…

FELIZ 2015 PARA TODOS OS HABITANTES DO PLANETA TERRA.

UM PÁLIDO PONTO NO CÉU COM TANTA BELEZA !!!

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Dos dois Andrés.

Publicado: 10/11/2014 em Poesia

familia E a vida segue tão bonita, se espraia na família, se aconhega nos novos lares. É assim sem medida. Uma pausa e um alívio. Notícias cheias de luz e bem aventuranças. Hoje, o aniversário do primeiro sobrinho. André. Sinônimo de temperança, equilibrio, bondade e musicalidade. Hoje, perto de fazer um mês de nascido, o André sobrinho neto. Dádiva sob o céu de Brasília. Com o amor de Thiago e Cecília. Uma esperança para que o mundo seja muito melhor com a sua chegada. Ainda não conheci pessoalmente o mais novo integrante da família. Estão bem os dois. A vida segue tão bonita que eu deixo um poema de Drummond para eles:

DESEJOS

Desejo a vocês… Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem mau humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope com amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma surpresa agradável Ver a Banda passar Noite de lua cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho. Sarar de resfriado Escrever um poema de Amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um bronzeado legal Aprender um nova canção Esperar alguém na estação Queijo com goiabada Pôr-do-Sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegria Uma tarde amena Calçar um velho chinelo Sentar numa velha poltrona Tocar violão para alguém Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel E muito carinho meu.

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Pensei nas últimas semanas, agi, corri feito louco.

Sofri assédio moral quase que diário, escapei, sobrevivi a um dia de chuva, a outro dia de fúria.

Chorei sozinho no banheiro, mas ainda não era o fim do mundo.

Me afoguei em toneladas de papel, serviço, responsabilidades, dinheiro dos outros para cuidar, mas ainda não era o fim do mundo.

Nada é o fim do mundo.

O fim do mundo, do mundo de cada um, que é o que nos cabe cuidar e melhorar,

é quando  o amor se desvai, se finda, não medra, não se explica, nem se justifica.

O fim do mundo, normalmente é uma escuridão.

E nela é quando não vemos nem a nossa sombra.

O mundo precisa é nascer, é preciso viver esse parto,

é  preciso medir e aceitar e perceber que o amor não é depender de ninguém,

que o outro longe, um dia volta, ou um dia a gente se encontra.

O outro longe é lugar que nunca existe nem existiu.

Sempre haverá no calor da ausência uma certeza

que não deixa ir embora nosso sorriso.

(*) escrito nos engarrafamentos de Raincife e Hellcife entre alguns dias de Maio ou desmaio. como seja.

reiki

 

 

quando nascemos tínhamos um papa diferente

uma igreja diferente

e a fé católica apóstolica romana ainda habitava o imaginário sem maiores concorrências…

eis que crescemos

a igreja afunda em escândalos,

em ouro,

em ações que o banco do vaticano teima em esconder,

em lavagem de dinheiro,

em P E D O F I L I A…

muita vergonha para uma igreja que se diz sucessora do CRISTO.

Eita que se ele voltasse novamente teríamos o diálogo de OSHO REDIVIVO?

– Cristo preso por um padre

– Cristo acusado de atrapalhar 2.000 anos do negócio que está dando certo?

– Cristo novamente sendo crucificado agora pelos devidos católicos e não mais pelos indevidos judeus?

PapaFrancisco14.03.13

 

a resposta com Francisco ou talvez com Dom Hélder…

 

O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus.

Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista.

Dom Helder Câmara

 

 

 

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No começo era o verbo

e nós não aprendemos a conjugar.

No começo não havia o tempo

e nós estamos usando ele sem saber parar.

O tempo vai nos ensinar,

pena que talvez não haja mais tempo…

 

 

 

O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos.

Pitágoras

Nunca sabemos quando será nosso último momento.
Cuide para que ele não seja um ‘curtir’ no facebook.

Augusto Branco

Espero que toda essa conectividade (orkut, msn, facebook, twitter, formspring…). Tenha um propósito maior do que o já constatado, roubar o nosso tempo.

Kléber Novartes

Eu não a pago para ter sexo, eu pago para ela não me adicionar no facebook.

Charlie Harper

“Deus criou a vida para que cada um cuidasse da sua; e Mark Zuckerberg criou o facebook para que todo mundo cuidasse da vida de todo mundo.”

Dani Calabresa

No Facebook é assim: Uma indireta, mil atingidos e o alvo nem leu.

Vanessa Pimentel

 

 

 

 

 

 

 

Levitando com o VIMEO.

Publicado: 19/01/2013 em Poesia

VIDA SELVAGEM. Beleza curta…

Publicado: 18/01/2013 em Poesia

Manoel de Barros em cinco atos.

Publicado: 04/01/2013 em Poesia

 

manoel de barros

 

Quando o mundo abandonar o meu olho.

Quando o meu olho furado de beleza for esquecido pelo mundo.

Que hei de fazer?

 

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

 

Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

 

O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole…

Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz…
se chama enseada…

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

 

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

 

CAIOF

No hospital, fiquei amarrado numa maca, nu, sem poder me mover. Dois dias num corredor, com frio, e ninguém me dava um cobertor. Acho que fiquei delirando, acordava e dormia, e só lembrava de filmes, principalmente Frances, com Jessica Lange. O que achei até meio chique. Dois dias depois acordei numa cama. Minha irmã, Cláudia, entrou no quarto, nos abraçamos e choramos. Fiquei dois meses no hospital. Comecei a tomar AZT.

Também me diverti muito. Fiz amizade com muitas enfermeiras – habituadas a lidar com as verdades da vida, são pessoas diretas e sinceras – com todo mundo. O cara que fazia a faxina era pai-de-santo, uma outra enfermeira fazia parte de um grupo que tinha contatos com uma civilização extraterrestre, uma médica era kardecista, uma psicóloga me disse que tinha feito uma masectomia e estava toda ligada em anjos. O médico que me tratava era meu leitor. Ele teve um cuidado especial comigo e fiquei confiando nele. Eu pensava: “Bom, se o Francisco gosta do que escrevo, não vai querer me matar”. Quando saí do hospital , tudo me parecia tão precioso.
Como não escondi, desde o primeiro momento, que estava com Aids, não tive vergonha. Quando a gente não esconde, não há rejeição. Posso contar nos dedos de uma mão as pessoas que pararam de ligar. Nenhum amigo íntimo desapareceu. E tem uns, como a escritora Lygia Fagundes Telles, que ligam toda semana. Talvez eu tenha sorte, meus amigos sejam muito bons. Ou talvez, no meio em que eu circulo, isso já virou meio arroz-de-festa, ninguém mais nota a questão da Aids.
Mas quando entro no avião as pessoas se cutucam, me viram na TV e dizem: “Esse aí é o Caio Fernando Abreu, o escritor que está com Aids”. Recentemente dei um grito no avião. Duas peruas se cutucavam e cochichavam. Fiquei impaciente e disse aos berros: “Sou eu mesmo, o que foi?” Elas ficaram envergonhadas. Na maioria das pessoas senti uma coisa solidária, às vezes um pouco tensa. Elas não sabem muito bem o que fazer comigo.
A Aids mudou a relação das pessoas com o sexo. Deu origem até a coisas não muito boas, como o sexo por telefone, sexo por computador. Nesse sentido, nos deixou muito mais solitários com a nossa libido. Tocar o outro é uma aventura. Há dez anos era uma coisa banal. Isso é manipulado pela sociedade, pela igreja. Eu tenho amigos e amigas que não treparam mais. A camisinha pode rasgar, tem orifícios minúsculos. Eles ficaram paranóicos. O mundo contemporâneo está conduzindo o ser humano a uma grande solidão.
Não fiquei santificado com a doença. De alguma forma, sempre busquei a religiosidadee acreditei que este plano é ilusão. Uma passagem para tentar melhorar nós mesmos. Minha parte são os livros, uma tentativa de ajudar as pessoas a se conhecerem. Sou muito ligado em candomblé, e isso está refletido no trabalho. Meu romance Onde Andará Dulce Veiga? tem a estrutura hierárquica de um jogo de búzios. Todos os orixás são invocados no livro. O primeiro é Exu, que estabelece a ligação entre o humano e o divino.
Em agosto do ano passado, fiquei hospitalizado. Saí em setembro, vim para Porto Alegre, juntei forças e fui, no mês seguinte, à Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. E retornei definitivamente. É gostoso voltar a morar com os pais, voltar à própria cidade. Descobri que os lugares não existem. Passam a existir quando se olha para eles e se adjetiva o lugar. Meu corpo está aqui. Não tenho a menor necessidade de sair daqui.
Muitos amigos foram embora, outros moram no Rio e Sâo Paulo. Por aqui, vejo o Luciano Alabarse, diretor de teatro gaúcho, falo com a escritora Lya Luft. E tenho um bom amigo, que conheci há uns dois anos, que se chama Léo de Oxalá – é um pai-de-santo. Não vou me relacionar com pessoas que ficam dizendo coisas desagradáveis. Tem os que sumiram por causa da Aids. Compreendo. Eu mesmo, quando alguns amigos ficaram doentes, fugi. Era o medo do espelho, talvez.
Que bom que eu tenho um tempo determinado. Posso me concentrar nas coisas que quero fazer. Posso escrever. Agora publiquei Ovelhas Negras, restos que nunca joguei fora. É o que foi ficando na gaveta desde os 14 anos de idade. Uma tentativa de revisar a mim mesmo. Parece um pouco com um livro póstumo e é uma maneira de fazer isso antes de morrer, revisando eu mesmo minha obra. O livro é uma passagem por momentos meus e do país: a ditadura, o sonho hippie, o exílio, a Aids. Tinha medo de não conseguir terminar o livro. Mas ele está aí, juntei tudo, já que vou morrer.
No livro tem uma história que foi censurada pelo Jornal do Brasil na época da eleição do Collor. O jornal pediu para o Márcio Souza escrever sobre o Lula e eu faria o mesmo com o Collor. Escrevi a história de um menino que sonha com um garoto ruivo e manco. No dia seguinte, vai para as pedras do Arpoador, no Rio, e lá aparece o garoto. Ele pergunta ao menino Collor se quer ser o dono de um país inteiro. Ele diz sim. E o garoto acaba comendo ele – era o demônio. O conto se chama O Escolhido. O José Castello, que era o editor, disse que a cúpula do jornal optou por não publicar. Quando o Collor ganhou, liguei e disse: “Por causa de covardia como a de vocês é que o cara foi eleito”. Tive receio de publicá-lo no livro. Acho que o caso do irmão, Pedro Collor, foi coisa de magia negra.
Tem uma coisa da Aids que é preocupante. Um dia eu estava no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, uma mulher atravessou o saguão e disse: “Deixe-me abraçá-lo. Você foi escolhido”. Eu agradeci. Ora, escolhido! Eu desejo saúde. A Aids não é um castigo de Deus. Pode ser um castigo no sentido de que a natureza foi violada demais. Então o homem tem que ser punido. O planeta, Gaia, é um organismo vivo, como uma planta.
Não sei quanto tempo tenho pela frente. O Betinho está aí há sete ou oito anos. Fisicamente não tenho nada. A única coisa grave é o sarcoma de Kaposi, uma forma rara de câncer na pele. Essa mancha no nariz é uma das lesões que eu queimei. O problema é que eu tenho por todo o corpo, e pode dar por dentro do corpo. É uma das infecções oportunistas. No hospital Emílio Ribas, vi um rapaz com esse câncer na boca, do tamanho de uma bola de tênis. Tenho horror da deformação.
Aprendi comigo mesmo a sair do próprio bode. Acho que todas as pessoas deveriam pensar no lado da luz. Está com vontade de se matar? Tudo bem, toma um banho, vai ao cinema, compra umas flores. Ficar trancado no quarto não vai resolver os problemas. Ora, vai na locadora, pega um vídeo da Doris Day e pronto!
Depois que fiquei doente, minha auto-estima não diminuiu. A minha vaidade é que acabou. E a coisa é irônica comigo, a doença me atingiu no rosto. Meus valores passaram a ser outros. A viagem delirante do ego parou de existir. Não preciso provar mais nada. Agora quero ter saúde e continuar meu trabalho. Ultimamente eu respondo assim aos que se queixam pra mim: “Pensa no Zaire”. “

Depoimento a Fátima Torri – Revista Marie Claire – Set 1995

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade