Arquivo de março, 2010

A Páscoa de Isaac Newton.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

“Posso pegar meu telescópio e ver milhões de quilômetros de distância no espaço; mas também posso pôr meu telescópio de lado, ir para o meu quarto, fechar a porta e, em oração fervorosa, ver mais do Céu e me aproximar mais de DEUS do que quando estou equipado com todos os telescópios e instrumentos do mundo”

Isaac Newton

Yeats.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

A CANÇÃO DO DELIRANTE AENGUS (1899) 

Eu fui para uma floresta de nogueiras,
Porque minha mente estava inquieta,
Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, em um riacho
E capturei uma pequena truta prateada.
Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reativar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém me chamou pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela me chamou pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.
Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.

PS – Com certeza se William Buttler Yeats chegasse hoje e ligasse a televisão e visse o BBB estaria voltando para o poema, para sua floresta de nogueiras. Com certeza ele não voltaria mais por aqui. Os poetas são bichos estranhos. Não voltam nunca mais…

Augusto dos Anjos.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

 

A Idéia


De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica …

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

 

 

Versos Íntimos

 

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

 

Henri Cartier Bresson

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

PS – De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória.

Henri Cartier-Bresson

Sebastião Salgado.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

Joe Rosenthal.1911-2006.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

A Fotografia eterniza momentos.
A Poesia eterniza sentimentos.
A Fotografia é a Poesia da imagem.
A Poesia é a fotografia das sensações.

Desconhecido

A palavra foi dada ao homem para explicar os seus pensamentos, e assim como os pensamentos são os retratos das coisas, da mesma forma as nossas palavras são retratos dos nossos pensamentos.

Jean Molière

PS- Nietzsche, o profeta, dizia que a fotografia era a perda do momento. Perdíamos o momento para gravá-lo perdido e guardarmos a vida impressa no preto e no branco. Hoje nas cores, no computador, nas mudanças, nos pixels, rugas, rusgas, risos, dores, são apagados. Acredito que cem anos depois, o profeta acertou. A fotografia, uma nobre arte , enfim selou sua sentença. Agora não sabemos quando uma foto é verdade de uma verdade e não apenas uma sobreposição da mentira e da ausência sobre o que nós podíamos ter sido. O momento encontrado e não o momento perdido.

Por isso louvo Joe Rosenthal. O poeta de todas as imagens.

A Páscoa.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

 

Tivemos um café da manhã diferente a semana passada lá no banco.

Um colega trouxe Frei Aluízio para falar sobre a Páscoa.

Confesso que sou suspeito de elogiar/criticar.

Mas todas as vezes em que me deparei com o Frei, de aparência frágil, fala mansa, eu sempre fiquei em completo e total desconcerto e desconforto interior.

Ele consegue mexer com os nossos conceitos e pré-conceitos.

Escolheu duas passagens na Biblia, precisamente do N.T.

A parábola que fala sobre o quase apedrejamento da mulher adúltera. “Atire a primeira pedra…”

E a parábola do filho pródigo.

Confesso que ele foi brilhante. Como sempre.

Mas a gente às vezes usa ouvidos seletivos e me ative a segunda parábola.

A sua interpretação única.

Ele definiu para mim a melhor forma de perdão que já escutei na vida: a não censura.

O Pai, ali representado pelo fazendeiro, recebe o filho esfomeado que havia dilapidado seu patrimônio e o recebe com um abraço, manda matar um novilho gordo e fazer uma grande festa.

Ele cita uma tela de Rembrandt que interpreta essa passagem. O Pai é cego.

Ele nos explica: a cegueira é simbólica. O Pai fecha os olhos para os pecados do filho. Simplesmente nenhum sermão.

Nenhum aproveitar-se do erro dele, chutar o cachorro caído. Não.

O Pai simplesmente o acolhe. E assim derrama o seu perdão.

Foi um dos piores vexames da minha vida.

Pois ao não conseguir me conter , desabei. Enquanto alguns enxugavam as lágrimas eu chorava mesmo. Sem controle.

E prá completar ,o colega, ao término da homilia, aponta para mim e diz: Domingos por gentileza, faça as considerações finais.

– Eu de pronto respondi: assim você me quebra.

Quebrado eu já estava.

Que Dr. Adalberto estava ali diante de mim numa tela gigante.

Falei do meu passado. Da luz vermelha. Do retorno de Garanhuns.

Do reencontro à casa paterna.

E simplesmente não consegui dizer mais nada.

Quando ia comparar meu velho amigo com o personagem de Rembrandt me falta a voz.

Ainda tentei.

Dei por encerrado e agradeci a todos.

A Páscoa de 2010 havia definitivamente começado ali.

Mal sabia eu que haveria um Gólgota, um Calvário.

Mal saberia eu, que antes do Domingo da Páscoa eu percorreria descalço as pedras, pequenas, mas ia percorrê-las, por meus próprios pecados.

Ia sentir uma dor mínima. Infinitesimal. Comparada a dor que o Filho passou.

E como nem haveria de adivinhar futuros, nem adivinho presente, mal leio o passado, eu havia feito um pacto comigo de passar uma Páscoa em família diferente.

Uma Sexta-Feira de recolhimento e reflexão. Sairmos da cidade para buscarmos mais tempo para nós mesmos.

Viver o clima que já foi expulso pelas lojas e ovos de páscoa (minúscula) mesmo.

Para chegarmos ao Domingo com vontade de gritar a liberdade. Um brinde a vida.

Uma celebração pascal. A certeza de que a Ressurreição é a grande esperança.

Parece que por caminhos tortos eu vou conseguindo a Páscoa que sonhei.

E como o dinheiro não pode comprar, não porque o dinheiro seja rotulado ou seja mau.

Apenas ele não atravessa a outra margem. Ele não consegue fazer o câmbio com as coisas essenciais.

A Páscoa é uma delas.

A mensagem que faz com que ao pegarmos uma pedra, censurarmos um pecador, nos desarmemos antes e olhemos para nós.

Lá estará a resposta. Lá, bem guardado, estará o perdão que cegará nossos olhos.

E cairão pedras, preconceitos, reinos e rancores.

E enxergaremos a luz.

 

PS – Toda escolha que nos faz livres é uma ressurreição de Cristo em nossa vida.

Chersteston

PS ESPECIAL – Eu que simbolicamente
morro várias vezes só para
experimentar a ressurreição…

Clarice Lispector

As manhãs…

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

 

Podemos acompanhar os movimentos do sol todo dia. Nordestinamente.

Em nenhum lugar ele se faz tão contundente. Mesmo que sua presença seque barreiros.

Abandone plantações.

Bote poeira nos olhos. Teime em levar os açudes dos olhos.

Dirá , certamente, que a chuva é a grande responsável.

Pela ausência.

O sol ,que dependendo da época do ano me dá bom dia. E aos meus filhos e minha  mulher.

Cheguei a acordar com sede num sábado remoto, pois o sol me castigava a face.

Sonhava tomando litros e litros de água.

E não havia sol da meia-noite na véspera .

É salutar ver os diamantes nascendo no horizonte.

Ao longe a avenida Norte parecendo importante com tanta gente indo ao trabalho.

Avenida que teve o nome alongado. E está cada dia mais enforcada.

É salutar ter o sol inundando a casa, os filhos espreguiçando,  na luta.

De pé novamente. Filhos do sol.

E mais interessante é que todo acordar é um não se acostumar ferrenho.

O cérebro precisa reconhecer: hoje é quarta.

E aí o HD começa a rodar, os arquivos vão saindo dos cobertores e a memória descarrega o dia anterior, a noite anterior e nos prepara para peleja que vamos enfrentar.

A parceria com o sol, nesse aspecto me é bem salutar.

Não sou de praia, bronze, calorões, sal, bifes à  milanesa de gente.

Mas respeito o mestre Caetano na genial frase: o sol é o pai de toda cor.

A cor que ele traz a todos os lares. O mesmo sol, que na Gomes Coutinho, cuidava do jardim do meu velho. Que trazia tamarindos para Luiza fazer sucos arretados.

O mesmo sol ,que coloria minha bicicleta caloi verde, modelo 1969 e não sei quantos pela frente.

Ele vai ficar, como nos legou o poeta.

Antes de eu nascer estrelas e sóis aí estavam. Quando eu levitar continuarão.

Uma longa vida, uma existência vasta e produtiva, em verdade, não passa de sopros ao vento. Riscos na areia. Lambidas do mar que derrubam nossos castelos.

 

AMÉM. Pela nossa vida de cometas. Que então cometamos mais poemas, mais músicas, mais amores e principalmente saibamos que breve, muito breve, nossas vidas serão contadas pelos nossos filhos e nossos netos, sem podermos mais escutá-las.

 

PS – Quem dera essa água toda aí da foto que é do Pantanal, viesse um cadinho pro lado da gente. Seria uma parceria perfeita com o sol nordestino. Uma cajuína para brindar esse sonho.

e.e.cummings

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

“Agora eu sei onde Zeca Baleiro foi beber. A última estrofe desse poema está lá em uma de suas canções.”

 

nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas

( tradução:  Augusto de Campos )

Ângela.

Publicado: 31/03/2010 em Poesia

A outra gêmea. Univitelina. Até na voz.

Destinos entrançados. Em 1979 Salvador para uma. Em 1980 bis idem para outra.

Uma médica. Celestial. Outra Engenheira, Angelical.

Maridos engenheiros. Um petroleiro. Outro de Camaçari, o agora venezuelano.

Ela petroleira da Petrobrás ele bis idem e ambos na ativa.

Cada gêmea com três filhos. Coincidência. Uma com três filhas e outra com três filhos.

Cada uma desejando o que a outra teve de sobras?

Nada disso.

Embora saibamos ser natural esse desejo,  elas se mostram muito felizes com os rebentos.

Rebentos por assim dizer. Já não são infantes.

Já já chegam os netos.

Voltemos os olhos para Ângela.

No São Luís, foi minha  personal teacher de matemática. Nas férias da 7ª para a 8ª série.

Nunca esquecerei.

O meu castigo foi anulado pela sua dedicação.

Como se fossem ensinar o atual camisa 9 do Náutico a fazer gols, mesmo ele sendo tão ruim.

E aprendi em um mês o que um ano inteiro de dificuldades não havia conseguido.

Já estava me considerando burro ao cubo. Ela me ensinou a andar sobre as pedras dos teoremas.

Ãngela que acaba de ter o filho Mauro colocado na pole-position de importante concurso.

Toda prosa ainda fala: meu menino passou Tio Duda.

É marejar na hora. Que Caymmi não brinca em serviço.

Três sobrinhos baianos e tricolores e baianos e tricolores pernambucanos , pelo meu cunhado.

Todos os cunhados são perdoados pelo amor que derramamos às nossas irmãs.

E Ãngela que este ano está completando 31 no toitiço não me revela a fórmula do casamento.

Como ninguém revelou até hoje.

Por uma única razão.

Não existem fórmulas. Nem receitas.

Para casamentos. Nem para criar filhos.

AMÉM.

A Partícula de Deus…

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

Por Robert Evans

GENEBRA (Reuters) – Cientistas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) provocaram colisões entre partículas subatômicas batendo outro recorde de energia nesta terça-feira, recriando as condições existentes logo depois que o Big Bang deu origem ao universo há 13,7 bilhões de anos.

A experiência no Cern arrancou aplausos dos 80 cientistas presentes na sala de acompanhamento no complexo do centro de pesquisa, na fronteira entre a França e a Suíça.

“Isso acaba de mostrar o que podemos fazer ao pressionar o conhecimento avante sobre onde viemos e como o universo inicial se desenvolveu”, afirmou o diretor-geral do Cern, Rolf Heuer.

As colisões -o ponto alto até agora do experimento de 10 bilhões de francos suíços (9,4 bilhões de dólares) que prosseguirá durante anos- marcaram um avanço significativo para os físicos e poderiam ser vistos como um passo gigante para a humanidade, afirmou ele, falando em uma videoconferência a partir de Tóquio, no Japão.

O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) do Cern, o maior equipamento do tipo do mundo, lançou feixes de partículas numa energia de colisão recorde de 7 TeV (tera ou trilhões de elétron-volts) -três vezes e meia mais rápido do que anteriormente obtido num acelerador de partículas.

PASSO PARA O DESCONHECIDO

Os dados provenientes das colisões ao longo dos próximos anos serão analisados por milhares de cientistas por todo o mundo ligados por uma rede de computador conhecida por Grid (grade) para se ter insights sobre a natureza da matéria e as origens das estrelas e dos planetas.

“Este é um grande feito. Estamos indo aonde ninguém jamais esteve antes. Abrimos um novo território para a física”, disse à Reuters Oliver Buchmueller, um dos principais nomes do projeto.

“Há incógnitas conhecidas, como a matéria escura e novas dimensões sobre as quais esperamos aprender. Mas é possível nos depararmos com incógnitas desconhecidas que poderiam ter uma importância enorme para a humanidade. Com o LHC, temos a ferramenta de que precisamos.”

As colisões ocorreram uma nanofração de segundo a menos que a velocidade da luz no túnel de 27 quilômetros do LHC, que fica cerca de cem metros abaixo da superfície.

Os cientistas do Cern esperam que o projeto desvende alguns dos mistérios do cosmos -como a matéria foi convertida em massa depois da bola de fogo do Big Bang e o que é a matéria escura, ou invisível, que forma cerca de 25 por cento do universo.

“Ao longo de 2010 e de 2011 compilaremos os dados e esperamos fazer grandes descobertas”, afirmou Buchmueller à Reuters. “Acreditamos que, até o fim de 2010, encontraremos evidência da matéria escura e a confirmação de que ela está lá e o que ela é.”

Buchmueller disse acreditar que a experiência encontre a partícula hipotética conhecida como bóson de Higgs apenas depois de 2013, quando a energia das colisões do equipamento deverá chegar a 14 TeV.

Após um funcionamento-teste sem problemas durante a noite, os físicos notaram um pequeno defeito. Por isso, suspenderam por algumas horas as colisões de partículas com menor energia, que é o foco desta que é a maior experiência científica da história.

Os problemas surgiram ao amanhecer, na hora em que feixes de partículas eram injetados na máquina, mas funcionários do Cern rapidamente negaram que o defeito fosse uma repetição do grave incidente de setembro de 2008, que destruiu parte da máquina e adiou para agora o lançamento completo do projeto.

 

PS – Os aplausos dos cientistas, suas fisionomias sorridentes… será que o homem vai descobrir o “tijolo” original? A matéria da anti-matéria? A origem de tudo? E do nada absoluto? O custo é imenso. Mas à ciência é válido a busca incessante daquilo que nós não conseguimos explicar. Aguardemos novas explosões.

Sylvia Plath. Não nos deixe.

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

 

PALAVRAS

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

(tradução de Ana Cristina César)

Sebastião Alba.

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

NINGUÉM MEU AMOR

 

 

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam 
vendando-nos os olhos.

 

 

Sebastião Alba nasceu em Braga, Portugal em 1940. Após viajar para Moçambique, passou a conviver com um importante grupo de escritores e intelectuais. Foi jornalista, guerrilheiro político, e teve uma vida bastante agitada e cheia de desilusões, com passagens por prisões e hospitais psiquiátricos. Alba passa com o tempo a viver como andarilho, acabando por morar na rua e morreendo atropelado por um motorista em Braga sua terra natal.

um dos grandiosos deuses humildes da palavra“, foi como se referiu a ele José Craveirinha, considerado o maior poeta africano e primeiro escritor moçambicano a ganhar o Prêmio Camões de Literatura.

 

 

 

 

Que a vida não tá fácil.
Passado pelo crivo de um brother e uma sister. Desconfio que eles sempre dão 10 para se livrar do chatonildo aqui.
Mas vamos lá. Que a vergonha faz tempo que saiu de mim.

 

O mundo é suave,

o sono leve,

o mundo é tranquilo

a pena breve.

O mundo é sozinho

não há quem o carregue,

o mundo é meu filho

e a luz que o segue.

O mundo é tão frágil,

azul e tão magro,

que ainda escapa

dos temores que trago.

Já entrei no mundo

quando abri a porta de casa.

Era o mundo real,

não apenas a porta do meu quintal.

O mundo levou meus amigos,

amores presentes,

amores ausentes,

o mundo é menino.

Não cansa nunca.

O mundo é sempre

o que vivemos

dentro do outro mundo.

Nem portas, nem tramelas,

apenas as janelas amarelas

da casa onde nasci.

B.H. Quanta saudade…

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

PS – O Clube da Esquina explodia. Eu andava pelas ruas de B.H. pela primeira vez. 16 anos. Imaturos. Primeiras bramas.Frio gostosa. Mineiras belas. Umas cachacinhas amarelas. Uns tira-gostos estranhos. A primeira vez que fiz um repente e espantei os mineiros. Que diabos é isso? Ganhei um torneio maluco pelas bandas de lá. Grandes amigos ainda moram em B.H. Amigos de infância. Hoje cuidando dos seus infantes. AMÉM.

As boas novas de Viviane.

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

Algum tempo atrás postei minha dor por uma colega de trabalho.

Viviane. Gente fina. Gente da melhor qualidade.

Fala mansa, carinhosa. Mãe de duas gêmeas e um garoto levado.

Hoje aposentada. Lutando todo dia. Bravamente.

Sábado foi a festa-surpresa que realizamos em sua homenagem.

Bela festa. Singela e comovente.

Como foram comoventes o carinho da família em nos receber emocionados.

Vivi está muito melhor do que a gente podia imaginar.

O calor humano da festa foi uma pequena ajuda da nossa parte diante do imponderável.

E ela vai ficar melhor.

E com isso a agência inteira vai se curando.

A medida que nos preocupamos uns com os outros.

Nos tornamos mais próximos de nós mesmos.

Valeu Viviane.

Nós te amamos de verdade.

Ao amigo João Carlos I e único.

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

 

Em verdade. Quem teve coragem de me defender das infâmias.

Em verdade. Quem não agiu como conciliador.

Em verdade. Quem nunca me chamou de irmão.

Em verdade. Quem não sabia de nada e mesmo sabendo de tudo ficou do meu lado.

Em verdade. O cara a quem não pedi nada e por isso mesmo foi de coração o seu gesto.

Em verdade. O cara que sabe as nossas origens. O nosso caráter.

Em verdade. O cara que conhece quem é um homem e quem não é.

Não precisou brigar. Nem colocou auréola na cabeça.

Apenas fez o que os amigos de verdade sabem fazer.

Defendem o amigo. Mesmo que depois lhes puxem as orelhas.

Eu devia ficar agradecendo aqui o dia inteiro.

Mas temos nossas vidas para cuidar.

E ele com certeza ficaria puto e odeia baba-ovos.

Ontem foi uma segunda-feira santa.

Hoje uma terça-feira extraordinária.

As cortinas e os véus vão se revelando.

E ao bom D’us eu sempre agradeço o meu pelear constante.

Continuarei atuante. Continuarei insistindo.

O meu verbo é lâmina, é faca, é punhal, é fogo.

O meu verbo é coração, é alma, é amor, é paixão.

Assim eu sou com orgulho de ser um combatente.

E sei que não estou sozinho.

Amigo não é quem sopra sua ferida. Abana a cauda para dizer coitadinho.

Amigo é quem entra na briga quando lhe vê apanhando sem lhe julgar.

Mesmo que depois veja que você fez besteira ele está ao seu lado.

Valeu João Carlos.

Yellow House não se explica.

Yellow House é isso aí.

Melhor que Coca-Cola. Melhor que o Náutico.

AMÉM PARA NÓS DOIS.

Ao amigo que se foi…

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

Gostava de ler seus comentários.

Gostava de participar das suas opiniões.

Era sadio discordar dele.

Tudo tem seu preço na vida. Mas a vida segue em frente.

Gostava das suas colunas.

Da sua memória enciclopédica sobre o futebol.

Gostava de ver quanta gente o admirava.

Tinha livro publicado.

Um blogue excelente.

Uma vasta folha de serviços prestados ao futebol.

E infelizmente esse amigo não é mais meu amigo.

E eu nem tive tempo de dizer-lhe adeus.

Passou batido em meio as circunstâncias da vida.

Mas nunca é tarde.

Adeus.

 

Em homenagem a Armando Nogueira. O Pai do Jornal Nacional.

Carta ao Presidente.

Publicado: 30/03/2010 em Poesia

Havana, 14 de março de 2010

Ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de Brasil

Uma vez alguém me contou que os barcos em que se traficavam escravos africanos deixavam parte de sua carga em Cuba e outra na costa atlântica do Brasil. Assim, separavam irmãos, pais e filhos e amigos de toda uma vida. Assim, nessa bifurcação, nossos povos compartilham a mesma raiz.

Por isso nos parece tão perversa qualquer coisa que tente nos separar, por isso sonhamos que algum dia haja livre circulação entre todas as nossas nações americanas, por isso não consigo entender por que as autoridades de meu país me impedem de visitar o seu.

Na primeira ocasião, em outubro de 2009, pretendia fazer o lançamento do meu livro De Cuba com carinho, publicado pela editora Contexto. O escritório de migração que se ocupa de conceder as autorizações de saída do país aos cidadãos cubanos me informou que eu não estava autorizada a viajar. Esta era a quarta vez que me negavam esta autorização. Anteriormente, me haviam impedido de viajar à Espanha, para receber o prêmio Ortega y Gasset (de Jornalismo), em seguida para a Polônia e depois para os Estados Unidos, onde receberia a menção especial do (prêmio) Maria Moors Cabot na Universidade Columbia. Fui convocada pela segunda vez para ir ao Brasil, agora para o lançamento de um documentário sobre minha pessoa, feito por um grupo de diretores em Jequié (no interior da Bahia). Estou convencida de não encontrar dificuldades para obter o visto de sua embaixada em Havana, mas também tenho a certeza de que as autoridades do meu país voltarão a me negar a autorização de saída.

O senhor deu recentes demonstrações de possuir grande confiança na boa fé do governo cubano. Alimento a esperança de que, talvez, aqueles que governam meu país queiram manter viva esta sua confiança e – para não frustrá-lo – atendam a seu pedido de que me deem a autorização para visitar o Brasil. O senhor somente estaria pedindo em meu nome o que para qualquer brasileiro – e para qualquer ser humano – é um direito inalienável.

Desculpe-me que lhe tenha roubado o tempo que o senhor levou para ler esta carta e me desculpe também por tê-la escrito em espanhol. Não me desculpe, porém, pela minha crença de que o senhor deseja para os cubanos os mesmos direitos que deseja ver cumpridos entre os brasileiros.

Yoani Sánchez Cordero