Arquivo de 08/12/2012

CELLY

C E L L Y     C A M P E L L O

Quando se fala do rock brasileiro, em geral se comete uma injustiça . Não chega a omissão mas, há um pequeno grupo de cantores que formaram um movimento sem nome, por pura afinidade musical e adesão espontânea, que quase sempre é citado ligeiramente e… passa batido. O rock brasileiro não começou com Roberto Carlos e a Jovem Guarda.

Na verdade, na época em que aquela garotada tentava fazer rock, Roberto tentava ser João Gilberto. Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, Ronnie Cord, Tony Campello e sua irmã, CELLY, foram os nomes que se destacaram da 1ª turma. De fato, foi uma cantora de samba-canção, NORA NEY quem primeiro registrou um rock, e na versão original, Rock Around The Clock de Bill Haley. Lembram de um tal MIGUEL GUSTAVO ,autor da marchinha “Prá Frente Brasil”, hino da seleção de 70 ? (essa até o MR-8 cantava, e de fato mereceu e merece o nosso carinho porque é uma delícia. Das canções associadas à Ditadura Militar, essa ficou fora de nossa rejeição óbvia, desde o gol do Carlos Alberto) pois bem, ele foi o autor do primeiro rock gravado no Brasil, “ROCK AND ROLL EM COPACABANA”. Logo depois,em 1957, foi lançada por BETINHO & SEU CONJUNTO, “ENROLANDO O ROCK”. De fato nada dessas tentativas vingou até CELLY CAMPELLO estourar com a versão de ESTÚPIDO CUPIDO. Ai a coisa pegou. Pelas vendas de discos, execuções em rádio e aparições na TV, temos que admitir que bem antes de Wanderléa, Rosemary, Rita Lee, Gal… durante um curto mas muito intenso período, a garota CELLY reinou absoluta e arrastou sua turma: RONNIE CORD (Biquine de Bolinha Amarelinho…), CARLOS GONZAGA (Diana) e o irmão TONY. Todavia, era CELLY CAMPELO quem ocupava as paradas com sucessivas canções.

Embora tenha nascido na capital, CÉLIA BENELLI CAMPELLO foi criada em Taubaté e aos 6 anos de idade já estava participando do “cast” do programa CLUBE DO GURI naquela cidade, onde também estudou piano, violão e balé. Já tinha seu programa exclusivo na Rádio Cacique com apenas 12 anos. Orientada pelo irmão, gravou seu primeiro disco em São Paulo aos 15 anos (78 RPM) e estreou na TV em 1958 para, no ano seguinte dividir com TONY , seu próprio programa de televisão, CELLY & TONY EM HIFI na TV RECORD. Contudo, seu sucesso era apenas regional, até que lançou ESTÚPIDO CUPIDO. Celly começou nesse ponto, à tornar-se uma estrela nacional. Chegou à aparecer até no cinema com Mazzaropi em JECA TATU. Cada vez mais requisitada, a cantora acumulava hits (Lacinhos Cor-de-Rosa; Banho de Lua;Billy, Trem do Amor; Broto Legal…) e o título de RAINHA DO ROCK BR. Cely estampava capas de revistas diversas, monopolizando a turma jovem e ,segundo consta, era de longe a favorita para dividir com o iniciante discreto,Roberto Carlos, a liderança do programa Jovem Guarda, quando o “amor” falou mais alto e a garota aos 20 anos de idade, largou literalmente a carreira em seu momento mais significativo para casar-se com o namorado desde a adolescência, José Eduardo Gomes Chacon. E foi uma ruptura sem volta com a carreira.

Assumiu com todas as letras o papel de dona-de-casa, cuidando do marido e dos filhos que chegaram (Cristiane e Eduardo que lhe dariam dois netos). Sumiu então da mídia e com o passar dos tempos jamais demonstrou um mínimo arrependimento. E seu lugar foi sendo ocupado primeiro pela bela ROSEMARY com suas versões de Rita Pavone, e em seguida pelo estrondoso sucesso do Roberto e sua turma. Que não faziam nada muito diferente do que Celly vinha fazendo. Versões de músicas estrangeiras, com letras ingênuas, bobas até, sobre melodias simples porém cativantes. Afinal, nosso rock estava engatinhando.

Por volta de 1976, a Globo lançou uma novela, cujo enredo se passava “naqueles tempos inocentes”, que se chamava ESTÚPIDO CUPIDO. A trilha sonora, naturalmente só podia contemplar toda aquela turma de pioneiros, notadamente Celly Campello. De repente, todas aquelas canções, quase 15 anos após a precoce aposentadoria daquela jovem, estavam de volta às paradas. Surpreendente. Com os filhos criados e o incentivo do marido, Celly Campello ensaiou um retorno. Primeiro com uma participação na novela como a própria, e logo em seguida,lançando um novo disco. Uma produção equivocada que, preferiu voltar ao estilo (com todos os clichês) de sua carreira em 1960, quando deveriam atualizar seu repertório. Como a coisa não pegou, Celly, resolveu se recolher novamente, sem volta. E mais uma vez sumiu da mídia, que só voltou à falar dela quando de seu precoce falecimento, vitimada por um câncer em 3 de março de 2003 em Campinas.

Olhando para trás, não ouviremos nada demais. Sua música era singela e desprentenciosa. Era o comecinho do começo. Mas mesmo em seu berço, o rock and roll pegou as pessoas (especialmente a juventude) por seu ritmo e sua “guitarrada”. As letras ainda não eram grandes coisas. Mas não é preciso nenhum eruditismo musical, nenhuma pose de especialista para reconhecer que o 1º nome do rock brasileiro chama-se CELLY CAMPELLO. A Rainha do ROCK… e sem rei!

 

PSI LOVE YOU: Gilberto Gil, em dois brilhantes momentos de sua carreira, evocou CELLY. No rock BACK IN BAHIA (“nervoso, querendo ouvir Celly Campello/prá não cair…) e na belíssima toada, RETIROS ESPIRITUAIS (“é tão bom sonhar contigo/ oh luar tão cândido). Precisa dizer mais ?